terça-feira, 8 de maio de 2012
Eu não sou afro-descendente. Eu sou brasileiro.
Portal – Como sr. vê a condição dos afrodescendentes no Brasil?
Adhemar – Olha, vocês não vão gostar, mas eu não tenho nada a ver com afro-brasileiros.
Portal – O sr. não se considera um afrodescendente?
Adhemar – Eu não. Eu sou brasileiro! Não tenho nada com África. Nada, nada, nada com África. E digo sinceramente porquê. Estive três anos na Nigéria, e em nenhum momento eu ouvi os nigerianos falando em afro-brasileirismo, ou Brasil/África, ou qualquer coisa assim. Eles jamais ligaram para a nossa existência. Portanto eu não tenho nada a ver com eles.
Portal – É verdade que o sr. é rejeitado pelos movimentos afro-brasileiros, tanto pelas alas extremistas, quanto pelos mais moderados?
Adhemar – Eu não sei, mas acredito que sim, porque por duas vezes eu fui candidato a deputado e não recebi apoio nenhum, mas nenhum, de negros; só recebi dos brancos. Então eu não sei o que acontece, se sou rejeitado. E se sou, também estou pouco ligando para isso.
Portal – Para o sr. isso não é importante?
Adhemar – Para mim não, não é. Nada, nada importante. Na verdade eu sempre fui, sim, rejeitado pelos negros. E isso eu acho que é uma burrice, uma ingenuidade, uma falta de educação, falta de tudo. Porque quando dizem que eu só procurei os brancos, ora, eu entrei para o esporte, num clube de brancos! Não existiam clubes de negros! E todas as vezes em que eu recebi algum tipo de auxílio, seja para o estudo ou para o esporte, eu recebi dos brancos. Então eu não vejo porque teria de ser rejeitado. Isso me entristece muito, mas muito mesmo. E não só por mim! Eu vejo pela minha filha, também (que é cantora, além de ser jornalista). Em todos os shows dela a platéia está lotada, mas de brancos, seja o espetáculo pago ou gratuito. Quer dizer, o negro não dá suporte ao negro, essa é a verdade. Do contrário nós estaríamos em melhores condições, poderíamos ser como os negros americanos. Mas acho que o negro brasileiro não sofreu o bastante, só fica preso àquela questão de senzala.
Portal – Quais as diferenças entre os negros brasileiros e os americanos?
Adhemar – Bem, graças a um Lincoln, que abriu quatro escolas um dia depois da abolição da escravatura nos Estados Unidos, os negros tiveram condições de estudar e galgar postos na vida norte-americana. Hoje há um grande número de médicos, advogados, almirantes, brigadeiros, enfim, os negros americanos ganharam condições. E são unidos, ganham força com isso. Porque quando não conseguem melhores condições de trabalho, eles formam suas próprias empresas, até universidades. Agora, o negro brasileiro jamais se uniu para poder fazer qualquer coisa em torno de si mesmo. Por falta do dinheiro, o número de negros nas universidades brasileiras, públicas ou particulares, é sempre muito pequeno, uma minoria. E ninguém se une para nada. Só ficam gritando nas ruas "nós, os negros; nós, os negros". Isso não leva a nada.
Entrevista completa, concedida por Adhemar Ferreira da Silva em dezembro de 2000, poucos dias antes de morrer, no dia 12 de janeiro de 2001), no link: http://www.portalafro.com.br/entrevistas/adhemar/entrevista.htm
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ADHEMAR FERREIRA, EM PARTE, TINHA RAZÃO. AQUI NÃO HÁ UNIÃO ENTRE MUITOS DE NÓS, NEGROS. HÁ QUEM JUSTIFIQUE ISSO PELO FATO DE SERMOS DESCENDENTES DE ETNIAS DISTINTAS DA ÁFRICA QUE BRIGAVAM ENTRE SI,E QUE AINDA HOJE, DE MODO INCONSCIENTE, ESSA DESUNIÃO PERMANECE. ALÉM DO MAIS, OS NEGROS QUE VIERAM A FORÇA PARA CÁ FORAM VENDIDOS NA ÁFRICA PELOS VENCEDORES NAS GUERRAS TRIBAIS AOS MERCADORES DE ESCRAVOS NAVEGADORES. PORTANTO, PARCIALMENTE, O PROBLEMA COMEÇA EM NÓS.
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