FRANCISCO VIANNA
Quinta feira, 12 de junho de 2014
Uns amigos me pediram para escrever algo sobre a Copa do Mundo da FIFA, que começa oficialmente na quinta feira de hoje. Bem, lá vai...
A FIFA é dirigida por um sujeito de 78 anos, chamado Joseph Blatter e que conhece música. Ao invés tentar apurar e esclarecer as suspeitas de corrupção que pairam sobre o prêmio da Copa do Mundo de 2022, no Qatar, o presidente da Federation Internationel de Football Association (FIFA) prefere iniciar um balé orquestrado, na quarta feira de ontem, em São Paulo, na véspera da abertura da Copa do Mundo de 2014 na megalópole brasileira, para continuar no cargo por mais quatro anos.
No pódio para apresentar o seu discurso de encerramento, depois do 64º Congresso que ele tem liderado desde 1998, a Suíça ginga sob os olhos divertidos de Fernanda Lima, a modelo brasileira que oficia como mestra de cerimônias. "Eu me sinto bem, meu mandato vai acabar, mas garanto a vocês que a minha missão ainda não acabou", disse ele, em seguida, aos 209 delegados presentes à conferência.
Como seria de esperar por alguns meses, mas ao contrário do que foi anunciado em 2011, durante sua última reeleição, Joseph Blatter, prometeu que vai sair mesmo candidato a um quinto mandato consecutivo, em 29 de maio 2015, em Zurique.
Um homem está agora nomeado para tentar evitar isso: Jérôme Champagne, de 55 anos, que fora braço direito de Blatter entre 1999 e 2010. Outro postulante ao cargo é o famoso ex-jogador francês, Michel Platini, de 58 anos.
Enquanto isso, o mundo vai assistir encantado à Copa do Mundo ocorrer num Brasil desencantado.
O Brasil é um país estranho, dia a revista Le Monde, da França. O chamado "país do futebol" perdeu a copa de 1950 em sua casa, em seu mítico Maracanã superlotado e ganhou o troféu cinco vezes no exterior mais tarde, numa atmosfera de júbilo, ufanismo e aparente autoconfiança nos destinos do país como potência emergente. Agora que o mundo bate à sua porta, os brasileiros parecem não estar nem aí para o acontecimento esportivo quadrienal...
O desânimo e o desencanto, no entanto, não parece ser com a qualidade da sua seleção de futebol nem com o preparo desta para a competição. Estranhamente, nessa área tudo parece ir às mil maravilhas, tanto no aspecto técnico como na ausência de craques lesionados ou complicados com a justiça desportiva.
O desânimo e o desencanto procedem do ambiente político e econômico em que o Brasil se encontra, com o socialismo sendo enfiado goela abaixo dos brasileiros, com a incerteza gerada pela falta de segurança jurídica para os investimentos privados no país e pela degeneração das instituições democráticas em função da corrupção rampantemente crescente no país e, de certo modo, facilitada e até estimulada pelos principais partidos políticos no poder.
É claro que o festival vai começar hoje, quinta-feira, 12 de junho, muito embora cerca de 30% das exigências da FIFA para a realização do certame não tenham sido concretizadas. Mas a renúncia fiscal do governo brasileiro em favor da FIFA, que pela primeira vez na história, não pagará um centavo sequer de impostos ao país sede, acrescentará mais 2,5 bilhões de reais aos vinte e pouco bilhões de lucro que a entidade terá com o certame, deverá comprar perfeitamente o silêncio e a aquiescência de Josef Blatter, isso se não representar a compra de algo mais...
Mas, por enquanto, o que há é simplesmente uma oportunidade de fazer os holofotes iluminarem um país desiludido e inquieto, mal-humorado e desejoso de um futuro melhor e se ver livre de uma decadência socialista que vem sendo progressivamente imposta.
O Brasil está deixando de sofrer do complexo de "vira latas para ser um país com raiva de si mesmo" e recebe a Copa do Mundo como uma válvula de escape dessa ira. O seu destino na competição pode catalisar profundas transformações no país a partir de outubro próximo. Se isso realmente acontecer, a Copa do Mundo da FIFA poderá, afinal, ter sido de uma grande utilidade para os brasileiros.
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