Encarnada pelo Partido NOVO, do banqueiro João Amoêdo, uma nova direita ideológica surge no cenário político brasileiro para defender o livre mercado, menos impostos, Estado mínimo e liberdades individuais
3 de abril, 2014
“Cinquenta tons de rosa” é como Luiz Felipe d’ Avila, do Centro de Liderança Pública, descreve o espectro político do Brasil. O país tem apenas 32 partidos, mas 26 têm nomes que combinam palavras como “social”, “democrata” e “trabalhadores”. Mesmo aqueles que não são de esquerda não se rotulam de direita.
A aversão ao rótulo “de direita” é um legado do regime militar que tomou o poder após um golpe há 50 anos e só o devolveu em 1985. Isso é compreensível, mas não é inteiramente justo. O regime militar adotou um conjunto de políticas que não seriam uma anomalia na França esquerdista, como por exemplo o apoio a “campeões nacionais”, a tolerância a cartéis, a proteção comercial, programas de transferência de renda e apenas uma pitada de ortodoxia macroeconômica para manter os mercados felizes.
Apesar de assumirem uma aura progressista, os partidos brasileiros da atualidade também seguem este modelo, diz Roberto Mangabeira Unger, professor da Universidade de Harvard. Por esse lado poderíamos até chamá-los de “conservadores”.
Esquerda superficial
Os próprios brasileiros não são um grupo particularmente de esquerda. Em novembro, uma pesquisa feita pelo Datafolha revelou que quase a metade tem opiniões de direita em questões sociais, tais como o controle de armas ou a pena de morte, e apenas pouco mais de um quarto expressam pontos de vista de esquerda. Em questões econômicas as proporções são invertidas, mas isso ainda deixa mais de um brasileiro em quatro cético em relação à intervenção do Estado, altos impostos e assim por diante .
“Os eleitores recuam do rótulo ‘conservador’, mas abraçam muitas ideias conservadoras”, diz Ronaldo Caiado, do Democratas, um de dois partidos de direita no Congresso (o outro se disfarça sob o nome de Partido Progressista). Caiado critica o inchaço do governo, é duro com o crime e prega a moral tradicional. Sua posição é solitária na legislatura brasileira.
Reforços podem estar a caminho. João Amoêdo é fundador e presidente do recém-formado Partido NOVO, que defende o livre mercado, o Estado mínimo, impostos baixos e liberdades individuais (incluindo o direito de portar armas), ao contrário do ideal político brasileiro de “Suécia tropical”, para usar uma frase de Mangabeira Unger. Amoêdo é banqueiro e até ousa pronunciar a palavra “privatização” e Petrobras na mesma frase. Faltam apenas 20 mil das 492 mil assinaturas que o Partido precisa para ser autenticado e participar de eleições. Isso deve acontecer em maio, tarde demais para participar das eleições em outubro deste ano, mas talvez não tarde demais para inserir uma discussão séria sobre o tamanho do Estado na pauta do Congresso.
Na medida em que os brasileiros enriquecem, mais deles poderão preferir guardar seus ganhos do que compartilhá-los. Adriano Codato, cientista político da Universidade Federal do Paraná, observa a ascensão de uma nova direita ideológica, especialmente entre blogueiros e colunistas. Eles foram eleitoralmente irrelevantes até agora, diz Codato, mas isso pode mudar.
Fontes: The Economist - The loneliness of the right-wing legislator | http://opiniaoenoticia.com.br/brasil/aversao-brasileira-ao-rotulo-%E2%80%98de-direita%E2%80%99-pode-estar-prestes-a-mudar/
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