REDAÇÃO CENTRAL, 11 Mai. 15 / 12:06 pm (ACI).-Ion Mihai Pacepa foi general da polícia
secreta da Romênia comunista antes de pedir demissão do seu cargo e fugir para
os EUA no fim da década de 70. Considerado um dos maiores “detratores” de
Moscou, Pacepa concedeu entrevista a ACI
Digital e revelou a conexão entre a União Soviética e a Teologia da Libertação
na América Latina. A seguir, os principais trechos da sua entrevista:
Em geral, você poderia dizer
que a expansão da Teologia da Libertação teve algum tipo de conexão com a União
Soviética?
Sim. Soube que a KGB teve uma relação
com a Teologia da Libertação através do general soviético Aleksandr
Sakharovsky, chefe do serviço de inteligência estrangeiro (razvedka) da Romênia
comunista, que foi conselheiro e meu chefe até 1956, quando foi nomeado chefe
do serviço de espionagem soviética, o PGU1; Ele manteve o cargo durante 15
anos, um recorde sem precedentes.
Em 26 de outubro de 1959, Sakharovsky e
seu novo chefe, Nikita Khrushchev, chegaram à Romênia para as chamadas “férias
de seis dias de Khrushchev”. Ele nunca tinha tomado um período tão longo de
férias no exterior, nem foi sua estadia na Romênia realmente umas férias.
Khrushchev queria ser reconhecido na história como o líder soviético que
exportou o comunismo à América Central e à América do Sul. A Romênia era o
único país latino no bloco soviético e Khrushchev queria envolver os “líderes
latinos” na sua nova guerra de “libertação”.
Eu me investiguei sobre
Sakharovsky, vi os seus escritos, mas não pude encontrar nenhuma informação
relevante sobre sua figura. Por que?
Sakharovsky era uma imagem soviética dos
anos quentes da Guerra Fria, quando os membros dos governos britânico e
israelense ainda não conheciam a identidade dos líderes do Mossad e do MI-6.
Mas, Sakharovsky desempenhou um papel extremamente importante na construção da
história da Guerra Fria. Ele ocasionou a exportação do comunismo a Cuba
(1958-1961); ele manipulou de maneira perversa a crise de Berlim (1958-1961)
criou o Muro de Berlim; a crise dos mísseis cubanos (1962) e colocou o mundo na
beira de uma guerra nuclear.
A Teologia da Libertação foi
de alguma maneira um movimento ‘criado’ pela KGB de Sakharovsky ou foi um
movimento existente que foi exacerbado pela URSS?
O movimento nasceu na KGB e teve um nome
inventado pela KGB: Teologia da Libertação. Durante esses anos, a KGB teve uma
tendência pelos movimentos de “Libertação”. O Exército de Libertação Nacional
da Colômbia (FARC –sic–), criado pela KGB com a ajuda de Fidel Castro; o
Exército de Libertação Nacional da Bolívia, criado pela KGB com o apoio de
“Che” Guevara; e a Organização para Libertação da Palestina (OLP), criado pela
KGB com ajuda de Yasser Arafat, são somente alguns movimentos de “Libertação”
nascidos em Lubyanka – lugar dos quartéis-generais da KGB.
O nascimento da Teologia da Libertação
em 1960 foi a tentativa de um grande e secreto “Programa de desinformação”
(Party-State Dezinformatsiya Program), aprovado por Aleksandr Shelepin,
presidente da KGB, e pelo membro do Politburo, Aleksey Kirichenko, que
organizou as políticas internacionais do Partido Comunista.
Este programa demandou que a KGB
guardasse um controle secreto sobre o Conselho Mundial das Igrejas (CMI), com
sede em Genebra (Suíça), e o utilizasse como uma desculpa para transformar a
Teologia da Libertação numa ferramenta revolucionária na América do Sul. O CMI
foi a maior organização internacional de fiéis depois do Vaticano,
representando 550 milhões de cristãos de várias denominações em 120 países.
O nascimento de um novo
movimento religioso é um evento histórico. Como foi construído este novo
movimento religioso?
A KGB começou construindo uma
organização religiosa internacional intermédia chamada “Conferência Cristã pela
Paz”, cujo quartel general estava em Praga. Sua principal tarefa era levar a
Teologia da Libertação ao mundo real. A nova Conferência Cristã pela Paz foi
dirigida pela KGB e estava subordinada ao respeitável Conselho Mundial da Paz,
outra criação da KGB, fundada em 1949, com seu quartel geral também em Praga.
Durante meus anos como líder da
comunidade de inteligência do bloco soviético, dirigi as operações romenas do
Conselho Mundial da Paz (CMP). Era estritamente KGB. A maioria dos empregados
do CMP eram oficiais de inteligência soviéticos acobertados. Suas duas
publicações em francês, “Nouvelles perspectives” e “Courier da Paix”, estavam
também dirigidas pelos membros infiltrados da KGB –e da romena DIE2–. Inclusive
o dinheiro para o orçamento da CMP chegava de Moscou, entregue pela KGB em
dólares, em dinheiro lavado para ocultar sua origem soviética. Em 1989, quando
a URSS estava à beira do colapso, o CMP admitiu publicamente que 90 por cento
do seu dinheiro chegava através da KGB3.
Como começou a Teologia da
Libertação?
Eu não estava propriamente envolvido na
criação da Teologia da Libertação. Eu soube através de Sakharovsky, entretanto,
que em 1968 a Conferência Cristã pela Paz criada pela KGB, apoiada em todo
mundo pelo Conselho Mundial da Paz, foi capaz de manipular um grupo de bispos sul-americanos da
esquerda dentro da Conferência de Bispos Latino-americanos em Medellín
(Colômbia).
O trabalho oficial da Conferência era
diminuir a pobreza. Seu objetivo não declarado foi reconhecer um novo movimento
religioso motivando os pobres a rebelar-se contra a “violência
institucionalizada da pobreza”, e recomendar o novo movimento ao Conselho
Mundial das Igrejas para sua aprovação oficial. A Conferência de Medellín
alcançou ambos objetivos. Também comprou o nome nascido da KGB “Teologia da
Libertação”.
A Teologia da Libertação
teve líderes importantes, alguns deles famosas figuras “pastorais” e alguns
intelectuais. Sabe se houve alguma participação do bloco soviético na promoção
da imagem pessoal ou dos escritos destas personalidades? Alguma ligação
específica com os bispos Sergio Mendes Arceo do México ou Helder Câmara do
Brasil? Alguma possível conexão direta com teólogos da Libertação como Leonardo
Boff, Frei Betto, Henry Camacho ou Gustavo Gutiérrez?
Tenho boas razões para suspeitar que
havia uma conexão orgânica entre a KGB e alguns desses líderes promotores da
Teologia da Libertação, mas não tenho evidência para comprová-la. Nos últimos
15 anos que morei na Romênia (1963-1978), dirigi a espionagem científica e
tecnológica do país, e também as operações de desinformação destinadas a
aumentar a importância de Ceausescu no Ocidente.
Recentemente vi o livro de Gutiérrez
“Teologia da Libertação: Perspectivas” (1971) e tive a intuição de que este
livro foi escrito em Lubyanka. Não surpreende que ele seja considerado agora
como o fundador da Teologia da Libertação. Porém, da intuição aos fatos,
entretanto, há um longo caminho
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