Lembrai-vos da Bastilha
José Gobbo Ferreira
Em 1789, a sociedade francesa
era governada pelo Rei e constituída por três grupos, denominados “Estados”: o
primeiro, constituído pelo clero, o segundo pelos nobres, e o terceiro pela
classe média e produtora, os burgueses. O povo formava os “sans culottes”, os
despossuídos, os empregados semiescravos.
Os impostos eram pagos
somente pelo terceiro Estado, que sustentava os dois outros. As consequências
disso recaiam sobre seus empregados, que recebiam salários miseráveis.
Quando a situação ficou
intolerável, o povo e os burgueses forçaram a convocação dos Estados Gerais,
uma assembleia do tipo constituinte, onde certas distorções poderiam ser
corrigidas. O terceiro Estado entrava em desvantagem nas decisões,
pois os outros dois sempre se juntavam contra ele a fim de manter seus
privilégios. Desta vez, porém, algumas defecções no segundo Estado
lhe deram a vitória, que não foi reconhecida. Suas reivindicações não foram
levadas em conta pelo Rei, o que acabou resultando na dissolução dos Estados
Gerais e naquilo que se convencionou chamar de “Revolução Francesa” na qual
nobres cabeças rolaram em abundância.
No Brasil de
nossos dias, há uma rainha mentirosa e incompetente e um rei alcoólatra,
corrupto e imoral que trabalha nas sombras e cujo trono se desloca
continuamente.
Há um primeiro Estado formado
por um sistema político soi-disant representante do povo e encarregado
de exercer o poder em nome dele, mas que na verdade trabalha por usurpá-lo em
favor de seus próprios interesses.
Há o segundo,
constituído pelos parasitas que aparelham o Estado em todos os setores da
administração pública, e não só nada produzem como tem autorização real e do
primeiro Estado para saquear grande parte das riquezas do Estado Nacional.
E, exatamente nas mesmas
condições francesas daquela época, um terceiro Estado e um povo sofrido, que
sustentam os outros dois com seu suor e seus impostos.
Houve uma reunião dos Estados
Gerais quando milhões de representantes do terceiro Estado e do povo foram às
ruas em quase quinhentas cidades do País a fim de alertar aos outros que a
situação estava insustentável. Não foram ouvidos!
Mas eles
continuaram seus esforços, tentando demonstrar que, em contraposição ao
Distrital Puro, o processo eleitoral que proporcionaria a mais legítima
manifestação da democracia eleitoral em nosso país, aquele proposto pelas
velhas raposas enriquecidas na política, o chamado “distritão”, garantiria
definitivamente o poder econômico como o senhor das eleições brasileiras e
seria uma afronta à maturidade de nosso povo, pois iria juntar o Brasil ao
seleto clube formado exclusivamente por quatro membros ilustres: Afeganistão,
Jordânia, Vanuatu e Ilhas Pitcairn. Não foram recebidos!
Poder-se-ia, talvez, apelar à
justiça, mas o Poder Judiciário está contaminado pela servidão aos interesses
do partido do rei apedeuta, que continua a tentar infiltrá-lo com juízes
iníquos, prontos a atender seus interesses.
Sob argumentos subjetivos, a
Suprema Corte concedeu habeas corpus a inegáveis larápios, conluiados no
assalto às empresas públicas brasileiras, aplicando um tapa na face da
sociedade e disseminando a sensação de impunidade que tem sido a regra geral
nos tempos que vivemos. Votaram irmãmente o relator e o autonomeado presidente
da turma. O primeiro, escolhido a dedo pelo PT e o segundo, advogado do PT.
É absolutamente inconcebível
que os senhores senadores sequer cogitem agora de completar aquela Corte com um
amoral advogado do MST.
O povo, por mais de doze anos
enganado pela falsa propaganda do rei nu, começa a se aperceber disso, e se
inquieta. Há mais pessoas dormindo pelas ruas do Rio de Janeiro do que nas de
Katmandu, no Nepal, destruída por um terremoto. Aliás, estima-se que os
recursos desviados pelos representantes do rei e do primeiro Estado (e somente
aqueles até agora já descobertos), dariam para recuperar aquele país da
desgraça que se abateu sobre ele. Quando, e se, forem apurados todos os desvios
praticados por essa corja, talvez descubramos que menos cruel nos teria sido
ter sofrido um terremoto instantâneo do que suportar por tanto tempo a
corrupção desses crápulas no poder.
A insensibilidade e a fogueira
de vaidades do sistema político civil aumenta a quantidade de grupos que clamam
por uma intervenção militar “constitucional” e torna cada vez mais difícil a
posição daqueles que acham que essa não seja a melhor solução.
Senhores responsáveis pela condução
da vida política deste País: os senhores estão ignorando os repetidos avisos
que a sociedade brasileira lhes está enviando, até agora pacificamente, em
português claro e olhando-os nos olhos. Cuidado! Quem se propõe voluntariamente
a esquecer a história se arrisca a ser devorado por ela. O povo tem hoje pouco
pão e terá cada vez menos nos dias sofridos que se aproximam. Não o mandem
comer bolos!
A Bastilha é frágil. Basta um
rastilho de pólvora aceso para derrubá-la. A pólvora já está se acumulando na
base de suas muralhas. Não são poucos aqueles cheios de intenções de acendê-la.
Só falta a oportunidade adequada.
Não a forneçam!
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