Wilson Diniz:
Pacotes de marqueteiros
Rio - O estatístico George Gallup, em 1936, surpreendeu os analistas políticos ao prever a vitória de Franklin Roosevelt contra Alf Landon na eleição presidencial dos EUA ao criar o método de amostragem em pesquisas eleitorais. Até hoje, não existe mais análise de tendência eleitoral sem radiografar o perfil dos eleitores para os marqueteiros venderem seus candidatos, que assemelham-se a um produto de limpeza, bem embalado e com frases que entram no subconsciente do eleitorado.
O jornalista Gaudêncio Torquato, no seu livro ‘O Brasil de todos os vícios’, afirma que o marketing está entre as pragas que devastam a política. Recorre aos líderes mundiais para comprovar que as técnicas do marketing existem da época de Roma, 70 a.C, com Cícero. O povo se encantava com seus discursos. Hitler teve o marqueteiro profissional Joseph Goebbels. Napoleão modelou seu estilo se enfeitando para receber o referendo do Papa em Notre-Dame. No Brasil, não faltam exemplos de candidatos que utilizam os espetáculos religiosos para demonstrar sua fé e seduzir os fiéis.
Em 1985, Jânio Quadros ganhou a eleição contra FHC na última semana. No debate da Globo, perguntou a FHC se acreditava em Deus. O candidato não respondeu. No dia seguinte, o futuro prefeito soltou o seguinte prospecto: “Cristo vota em Jânio”. Na atual eleição para prefeito em São Paulo, o popstar Padre Marcelo Rossi referendou o candidato Russomanno — representante do Bispo Macedo, da Universal — e ainda relembrou que celebrou seu casamento e batizou seu filho. O tiro dos marqueteiros de utilizar doutrinas religiosas distintas pode sair pela culatra.
Jacques Séguéla, marqueteiro político, afirmou: “Não conte para minha mãe que trabalho em publicidade... ela pensa que sou pianista num bordel.”
Wilson Diniz é economista e analista político
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