sábado, 29 de setembro de 2012

SOU UM FANTASMA EM BUSCA DE UMA PÁTRIA. - de JOAQUIM PESSOA


BONITA E TRISTE PROSA POÉTICA




• O sítio onde estou é um quintal cheio de melancolia e de solidão onde cada um foge de si próprio e os que se afirmam felizes são aqueles que ainda não têm consciência disso.

• Não quero uma pátria de peregrinos e de putas "free lance", não quero atravessar a rua sem respostas, sem responsabilidade, ferido pela imundície, por um silêncio estéril, com passos impotentes e contrafeitos, tentando evitar que alguém me explique ou ensine alguma coisa.

• Já quase não tenho ninguém a quem dar um abraço, à beira do caminho só vejo estranhas flores de papel, próximas da morte, que pretendem dar-me conselhos, transmitir-me recados, fazer-me avisos.

• Sinto que me empurram para a morte como se me oferecessem um refúgio onde me querem de costas para a vida, para tudo o que nela sempre procurei desesperadamente transformar como se quisesse mudar o sangue em água pura.

• Procuro amar-me e amar os outros com uma obstinação ágil e silenciosa, procuro uma intimidade com um mundo cuja herança tenho dificuldade em reconhecer e aceitar.

• Não tenho pátria e busco uma.

• Um país onde as estrelas não estejam tão distantes, onde o silêncio faça sentido, onde o sentido das coisas não seja o do fogo que as consome.

• Persigo uma pátria que venha dentro de mim, mas que seja de todos aqueles que os meus lábios possam pronunciar o nome.

• Com uma realidade próxima dos sonhos.

• Os possíveis, os impossíveis, os que não podem ser sonhados.

• Uma pátria enamorada, onde se possa caminhar em direção ao amor, sem atos heroicos e sem lágrimas, com o coração cheio de canções.

• Onde ao princípio de cada madrugada qualquer de nós possa trocar intimamente os seus segredos, com a garantia de que mais ninguém escutará essas palavras.

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