terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A VENEZUELA É O REFLEXO DE CUBA: ESCASSEZ E REPRESSÃO



Nicolas Maduro, o ditador da vez na Venezuela, parece ter aprendido bem a lição que os Castros lhe ensinaram em Havana: a de usar a escassez como uma forma de repressão.

Mesmo que o resultado final dessa apropriação indébita do dinheiro das pessoas na Venezuela, fruto de uma campanha de "saque controlado" e de cortes de preços obrigatórios, sob ameaça de prisão, tenha enfurecido a população e deixado as prateleiras das lojas vazias, o candidato a caudilho substituto de Hugo Chávez insiste nessa manobra que só lhe proporciona uma recompensa direta e imediata, própria de qualquer estratégia populista e demagoga, a de satisfazer os anseios e necessidades de uma população extremamente empobrecida, ao repartir com ela o que não é seu e nem do estado venezuelano, enganando o povo no curto prazo.

Na verdade, os objetivos de longo prazo são ainda mais prejudiciaies para a economia do país e para o povo venezuelano. A coisa toda consiste em fazer com que a vida do cidadão comum se limite à satisfação de suas necessidades imediatas e imperiosas de adquirir apenas o necessário para sobreviver, tal como, de há muito, ocorre em Cuba. Os cubanos conhecem muito bem esta terrível situação: a de “conseguir obter” o de hoje e o de amanhã ser pensado apenas amanhã.

Tamanha escassez de quase tudo, e agora de disponibilidade de dinheiro também (quem tem o dinheiro não pode dispor dele como queira), é um processo repressivo que tem como intenção única a de perpetuar no poder um reduzido grupo (o politiburo socialista ‘bolivariano’) que se transforma num mecanismo de repressão que invade todas as esferas da sociedade da forma mais impositiva, e sem ter que se deter em supostos entraves de “objetivos sociais”, que no processo cubano já desapareceram ou passaram a ocupar um segundo ou terceiro plano há muito tempo. Ou seja, na Venezuela a gangue socialista no poder trata de retirar do povo qualquer anseio ou vontade de reverter essa situação trágica, exatamente como os Castros conseguiram fazer com o povo cubano.

Como disse, certa vez, um alto funcionário do setor de “comportamento de segurança” de Fidel Castro, seu ídolo havia declarado que “o governo chinês, na Praça da Paz Celestial, demonstrou que sabia como reprimir o povo corretamente, e, portanto, era forçado à cumprir aquela tarefa dolorosa e desagradável remover milhares de seus cidadãos de lá, eliminando milhares deles”. Isso tem um efeito “positivo”, segundo os socialistas, que é o de quebrar a vontade de retornar à produção e a geração de riqueza, capitalistas. Além desse tipo de ‘repressão preventiva’, o regime castrista tem se valido de outros meios para impedir que os cubanos se rebelem. Um deles, utilizado por décadas, tem sido a produção de escassez, intencional ou como simples consequência das funestas diretrizes do socialismo. Com a falta, de desde alimentos até a de moradia ou automóvel, a escassez tem sido utilizada, tanto para estimular a inveja e o ressentimento, como para ocupar boa parte do dia a dia das pessoas em Cuba. Maduro, agora, começa a trilhar o mesmo caminho.

Tal situação é o lugar comum onde desembocam a corrupção e o crime, que reinam há quase cinquenta anos como fomento do processo revolucionário, em que pese o fato do povo venezuelano ser amplamente conservador. A escassez age como uma força motivadora para o delito e como camisa de força que impede o desenvolvimento que quaisquer outras atividades produtivas e honestas. Trata-se mais de esclarecer as circunstâncias em que o mal ocorre do que de justificá-lo como consequência inevitável. No frigir dos ovos, uma análise marxista da crise econômica permanente que existe em Cuba e agora se aprofunda na Venezuela não deve excluir o mercado negro, a corrupção e o crime como importantes forças de um mercado informal, mas poderoso.

Em Cuba, fica, pois, apropriado falar de duas forças opostas ao governo de Havana. Há ainda outra dissidência na ilha. Não são homens e mulheres valentes que desafiam o poder, porque mal e mal sobrevivem do regime. Não gritam suas verdades, porque só reconhecem como verdade as mentiras dos Castros. Sequer se movimentam nas sombras, pois residem e vivem no engano. São, sim, os milhares de funcionários menores – e alguns não tão menores assim – que há décadas anseiam por mudanças, mas ao mesmo tempo têm sua vontade tolhida para consegui-las. Mas, um trabalho de sapa é sistematicamente feito por eles, se bem que mais para seu benefício pessoal do que por ideologia ou patriotismo, mas que prejudica o governo.

Na Venezuela está a ocorrer o mesmo. As acusações de corrupção lançadas pelo chavezismo quase sempre são seletivas e com claro objetivo político: o de desprestigiar a oposição.

O regime cubano sempre empregou para a sua própria conveniência a distinção entre delito comum e delito político. Houve época em que todos os presos comuns estavam no cárcere por serem tachados de contrarrevolucionários, porque matar una galinha era uma atividade contrária à segurança do país. Muitas vezes os opositores eram acusados de vagabundos e delinquentes. Assim, a escassez também tem sido usada para estimular a delação e disseminar a cizânia e a desconfiança, a partir da ausência de um futuro sequer presumível para uma população manipulada, e como o meio ideal para alimentar a fatalidade, e fazer com que a quase totalidade cruze os braços à espera do ‘inevitável’.

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