domingo, 8 de dezembro de 2013

Avisem aos médicos ?? cubanos que receita médica não é receita de culinária

O paciente foi prescrito com dois tipos diferentes de amoxacilina: Uma simples e uma com ácido clavulânico.

A presença do ácido clavulânico permite maior ação da amoxacilina tornando-a mais forte a certas cepas resistentes à amoxacilina, pois inibe as enzimas beta-lactamases.


Porém ao colocar mais amoxacilina, dessa vez sem o ácido clavulânico, o autor vai fazer o paciente ingerir dose absurda e irregular do antibiótico (1g de 12/12h) mas sem a quantidade de ácido clavulânico suficiente para inibir bactérias resistentes.


Na prática, esse mecanismo ajudará a bactéria a se tornar resistente inclusive ao antibiótico protegido. Além disso, adicionou um macrolídeo, azitromicina, junto ao tratamento original, 1x/dia.


Presume-se que se trata de uma prescrição para tratamento de infecção respiratória, pneumonia talvez. A presença do ambroxol, um expectorante mucolítico, confirma essa tese.


Os melhores consensos de pneumonia preveem que o uso de beta-lactamico + macrolídeo só deve ser feito em pacientes ambulatoriais com doenças específicas associadas ou uso prévio de antibiótico. Mas não é a melhor escolha, nesses casos o ideal seria uma quinolona mas tudo bem, vamos considerar a opção do beta-lactâmico.


Se a opção é essa, tem que prescrever direito. Amoxacilina para tratamento de pneumonia é de 8/8h.


Os beta-lactâmicos são drogas tempo-dependentes, em termos de farmacodinética e farmacodinâmica (pK/pD). Isso significa que essa classe de droga exibe atividade bactericida apenas quando a concentração livre da droga permanece acima da concentração inibitória mínima (MIC) durante determinado tempo.


Para amoxacilina em vigência de tratamento de pneumonia, esse tempo é de 8/8h. O uso da mesma em 12/12h seria apenas na formulaçao 875 mg, em um único comprimido revestido.


A ridícula tentativa de "misturar" amoxacilinas diferentes não irá surtir efeito pois na prática o organismo dele receberá:


a) amoxacilina 500 mg com ac.clavukânico, comprimido revestido, sendo metabolizado de 12/12h. Não atingirá o MIC durante as 24h, induzindo resistência.


b) amoxacilina 500mg sem ac.clavulânico, comprimido revestido, sendo metabolizado de 12-12h. Não atingirá o MIC e a ausência do clavulânico será duplo indutor de resistência.


As amoxacilinas diferentes "não se misturam" pois o que garante a permanente concentração do antibiótico no sangue é o comprimido revestido e sua liberação sanguínea controlada, de 12/12h, na dose de 875 mg.


O que o paciente recebeu foram dois "tiros" de amoxacilina que serão rapidamente liberadas dos seus comprimidos e atingirão pico excessivo, precoce e um profundo vale de concentração até a próxima dose.


Quando deveria ter recebido um único comprimido, de dose menor, cuja liberação controlada manteria o remédio sempre na dose sanguínea ideal.


Na prática, essa receita causará triplo risco ao ao paciente:


a) risco de seleção de resistência por manter por horas o antibiótico abaixo da linha do MIC.
b) risco de seleção de resistência por ter 500 mg de amoxacilina desprotegida e 500mg protegida.
c) risco de efeitos colaterais pela sobredose (1g) do antibiótico.


Para quem fez medicina na ELAM ou qualquer faculdade vagabunda como essas que temos por ai e aqui no Brasil, esse papo pode parecer maluco e que "o que importa é o tratamento". Mas isto se chama MEDICINA, que se feita sem seriedade, na base do improviso e do achismo, causará danos e esse tipo de receita acima, praticada em escala nacional, induzirá a uma ampla resistência coletiva à amoxacilina na comunidade.

*Texto explicativo por Francisco Cardoso

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