sábado, 20 de agosto de 2011

Tristes pressentimentos do que há de acontecer




DO EXCELENTE BLOG DO MISTER X

Ao mesmo tempo em que afro-caribenhos e chavs da welfare class incendiavam e saqueavam Londres,
no Chile estudantes majoritariamente brancos de classe média e alta enfrentavam a polícia e também quebravam vidraças. Queriam educação universitária para todos: "pública, gratuita e de qualidade". Bem, universidade custa caro. De qualidade, mais ainda. E "todos" são muita gente. Quem vai pagar? Essa pergunta, curiosamente, ninguém fazia.

Hoje em dia, todos querem tudo de graça. Pior: todos acham que tem "direito" a ter tudo de graça, na mão, e pra já. Tanto os saqueadores londrinos quanto os estudantes chilenos certamente achavam que tinham toda razão em agir como agiram. Afinal, se roubaram um iPhone foi porque foram "injustiçados na distribuição de riquezas", se educação e saúde custam caro é porque o capitalismo é malvado.


Quanto mais benefícios o Estado dá, mais se quer. Quanto mais os países se endividam e precisam cortar gastos, mais a população protesta, e mais o Estado gasta em contrapartida. A dívida? Que importa! Esse é um problema para as futuras gerações...

Os mesmos progressistas americanos e europeus que dizem ser a favor da ecologia e da redução do aquecimento global são a favor da imigração de terceiro-mundistas que aumentarão seu padrão de consumo e portanto a queima de carbono, além de terem sete filhos e fazerem aumentar as cidades e diminuir os espaços naturais. Os mesmos que acreditam em "igualdade social" fazem o mais que podem para tornar as sociedades cada vez mais desiguais, em nome da diversidade.

Recentemente vi uma exibição das gravuras de Goya. São imagens terríveis de guerra e violência. Não há conflito racial aqui: são franceses contra espanhóis, ou espanhóis contra os considerados hereges de seu próprio país. Todos brancos. Mesmo o maior apologista das "glórias da raça branca" há de convir que são cenas terríveis. De minha parte, vendo as gravuras vem me à mente uma observação de Mark Twain: "Não tenho preconceito de raça, cor, casta ou credo. Tudo o que preciso saber é que alguém é um ser humano -- isso é suficiente para mim, não se pode ser algo pior."


A questão é que, com a balcanização da Europa em linhas étnicas ou religiosas, esses conflitos tendem apenas a aumentar. Se membros de uma mesma etnia e religião lutam entre si, o que dizer de etnias ou religiões diferentes? Alguns acreditam que no futuro haverá integração e assimilação. Mas quem se asimilará a quem? Os muçulmanos ao secularismo, ou os pós-cristãos ao Islã?


Outros afirmam mesmo que com a mistura de raças e culturas em um "melting pot" geral os conflitos terminarão. (Na Europa, e especialmente na França, há cada vez mais casamentos inter-étnicos, de brancas e brancos com árabes ou africanos.) Lamentavelmente, parece-me uma utopia digna do "Imagine" do John Lennon (está tocando agora no café em que escrevo). O Brasil é o país mais miscigenado do mundo e, se (por ora?) temos menos conflitos abertamente raciais do que nos EUA, por outro lado, não quer dizer que não haja preconceito dos mais claros contra os mais escuros e vice-versa, e conflitos não faltam: temos 50 mil assassinatos por ano…

Uma das gravuras de Goya, reproduzida abaixo, chama-se "Tristes presentimientos de lo que ha de acontecer". Goya era pessimista quanto à humanidade. Acreditou no iluminismo francês e em seus valores de liberté, egalité e fraternité. Queria que os franceses trouxessem tais idéias à Espanha, que ele considerava bárbara, atrasada e supersticiosa. Porém, quando as tropas de Napoleão invadiram o país, Goya horrorizou-se com as atrocidades cometidas em nome da liberdade, muitas delas retratadas em seus desenhos.


Da mesma forma, o mundo de hoje não dá muita margem para o otimismo. A maioria das pessoas tem ideais utópicos e contraditórios entre si. Acreditam em paz global, igualdade total, harmonia entre os povos, fadas e unicórnios. A decepção será grande. E algum novo Goya talvez pinte os futuros desastres que ocorrerão.

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