sábado, 1 de setembro de 2012

Corrupção: uma forma de loucura?



Sabe-se que todo ladrão mente e que quase todo mentiroso rouba. A mentira, para o ladrão, é como a borda recheada de sua prazerosa pizza e através das quais, o roubo e a mentira, ele concretiza os devaneios de poder, onipotência, graças aos quais supera os sentimentos de insignificância e intimidação que atormentam sua alma.
Mas em navegarmos tempos de Mensalão e Cachoeira, não dá para, dentro da temática do roubo e da mentira, deixar de lado o universal flagelo da corrupção, uma forma sofisticada de roubo. Ou seja, apropriação de recursos públicos para uso particular ou manutenção e apropriação do poder, o inebriante poder. Inebriante, leitor, porque o poder, em si, com suas pompas, ritos e puxa-sacos, já satisfazem o narcisismo, a vaidade e as necessidades mais moderadas de compensação àquelas já citadas dores da alma. Mas, com a apropriação de recursos públicos, geralmente fortunas, “o buraco é mais embaixo” , pois, através da corrupção, alimenta-se o sentimento de que “eu posso tudo”, sobretudo, quando esfrego na cara da sociedade, a minha impunidade! E roubar, apropriar-se, não é nada diante do sentimento de poder e onipotência que provem, justamente, da impunidade, a borda recheada da já inebriante pizza da corrupção.
Neste ponto, leitor, ouso trazer outro lado da questão, levantado pela Psicanalista Marion Minerbo, em seu artigo “Corrupção, poder e loucura: um campo transferencial”. Após apontar a corrupção como um tipo de loucura do sujeito que nada teme e relacionar tal “loucura” com a “criança-no –adulto” do corrupto, ou seja, seus aspectos infantis, aquela estudiosa nos apresenta a idéia de “poderoso”/”intimidado”, sentimentos que podemos trazer na alma. Entendo aqui que, antes de atuar como “a tudo posso”, o infeliz sentiu-se como “intimidado” e insignificante. Para escapar de tais sentimenyos, busca refugiar-se na onipotência, no “a tudo posso”. Do ponto de vista coletivo, entretanto, para que um possa atuar como o “ a tudo posso”, é necessário que outro, na sociedade, atue como vitima, “intimidado, subserviente e siderado, que não se autoriza a sinalizar ao primeiro os limites de sua onipotência”.

No caso do “Mensalão”, expressão que recentemente quase foi proibida de ser usada pela imprensa, seus fatos se descortinam desde a “CPI dos Correios”, graças aos testemunhos, investigação, relatórios e, sobretudo, ao eloqüente e delubiano silêncio de alguns inquiridos naquela CPI. Parece saber-se claramente, hoje, onde estão os poderosos, os onipotentes, os acima do bem e do mal, da verdade. Vemos bem, ainda, aqueles que nos olham como se fossemos imbecis, quando nos dizem angelicalmente: “mas nada foi comprovado!”, como se o corrupto deixasse recibo e impressão digital. Resta-nos, entretanto, uma incômoda indagação: onde estão os intimidados que não sinalizam aos corruptos os limites para sua onipotência? Veríamos algum, no espelho, quando escovamos os dentes?

Valfrido M. Chaves Psicanalista

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