sexta-feira, 14 de setembro de 2012

MÉDICO PSIQUIATRA FALA...



O novo livro do cientista político André Singer, “Os Sentidos do Lulismo”, traz algumas constatações psicossociais interessantes : pobre, no Brasil, é de “direita”, isto é, gosta de autoridade, e abomina a teoria comunista de um “Estado forte”, ( aquele que tende a acabar com a iniciativa privada e dominar todos os setores da vida civil ).


Segundo o sociólogo, Lula só ganhou em 2002 porque a classe média ( esta sim, seria “pró-esquerdista” ) o apoiou e, em 2006 ( ano em que a classe média desencantou-se, por causa do mensalão ), porque a pobreza que votou nele, aprovou mesmo foi o aumento do salário mínimo, da previdência social, do crédito consignado e da bolsa-família. O Brasil é um país onde o “europeísmo branco e racional” não deu certo.


Aqui abomina-se as soluções “racionais” europeias do marxismo, lenismo, mussolinismo, hitlerismo, stalinismo. Aqui desconfia-se de tudo que tenta controlar a sociedade a partir da teoria racional e de um colegiado. Há uma desconfiança da “maldade do intelecto”, justamente porque somos um povo pouco intelectual, mistura dos menos intelectuais dos europeus ( os portugueses ) com os outros “menos intelectuais” do mundo, os sulameríndios e os subsaarianos. O intelecto nos causa medo porque nos é algo completamente estranho. Somos como os aborígenes atemorizados perante os “deuses-astronautas” de Von Daniken. Sabemos que , junto do intelecto, vem a maldade. E sabemos que, sem um coletivismo organizado ( nosso individualismo primitivo não permite a organização ) , somos completamente vulneráveis ao “mal”.


Os indivíduos sub-racionais, como nós, os brasileiros, não acreditam nem na abolição da propriedade privada a partir da teoria de um “intelecto superior” ( Marx e Cia ), nem no domínio eficaz de um colegiado sobre nós ( o bolchevismo ). Queremos mesmo uma “autoridade central”, um Deus, um Salvador, um Lula. Nosso primitivismo nos torna individualistas, ou seja , pré-comunitários, mas não egoístas ou arrogantes, pois sentimos que somos frágeis e precisamos de uma “proteção”. Sendo pré-comunitários, somos pré-gauleses, pré-europeus ( estes acreditam em um coletivo maior que o indivíduo, um Estado acima do sujeito ). Daí rejeitarmos qualquer domínio de um Estado sobre nós. Somos completamente contra-alemães, aquele povo branco submisso que aceita ser moído individualmente em prol de um Estado Maior.


 Não aceitamos o poder de um colegiado sobre nós : acima de nós, só Deus, só “um só”, só um Messias, só um Lula. Precisamos de um “Pai”, não de um líder. Precisamos de alguém que “cuide de nós”, e não que nos guie. Não temos necessidade racional de saber para onde ir, não temos necessidade de um guia racional : temos necessidade de alguém que apenas cuide de nós na travessia ( saber para onde ir nós já sabemos, ou melhor , já sentimos ). Já temos sol, família, amor, sexo, festa, a santa “cachacinha”, não queremos mais nada, não queremos guia racional nenhum. Prá quê : para filosofia, ciência, “finalidade da história”, “finalidade do homem”, “missão da humanidade ?”. Isto não existe entre nós. Lula é nosso Deus não porque tenha nos ensinado nada, não porque tenha nos mostrado caminho nenhum. Pelo contrário, nos 8 anos de poder, só soube esconder as coisas, enganar, engambelar, dissimular. Mas, uma coisa ele fez : “protegeu”. Estamos pois, numa situação “pré-esquerdista”, e o PT aprendeu rapidamente isto : hoje virou um partido populista, pré-racional, pré-programas, pré-programático. O pobre pensa assim, ou melhor, sente assim : “Lula não nos ensinou, não nos guiou, mas “agiu” por nós, agiu a nosso favor”. Não querem saber de serem guiados pelo comunismo, serem dirigidos por um colegiado. Querem apenas ser protegidos por um “Salvador”, por alguém, inclusive, que remeta à figura ancestral do “Messias” ( no Nordeste, o retrato de Lula figura, hoje, ao lado de Jesus, ao lado daquela foto retocada a pincel dos avós ).
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Marcelo Caixeta, médico psiquiatra.

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