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“... Afinal, todas essas evocações cerimoniosas de humanismos, utopismos, universalismos serviram, na verdade, a uma monstruosa inversão da realidade, uma “ressignificação de todos os valores”, nunca antes vista. Escravizaram os trabalhadores em nome da classe operária; elevaram traição e denúncia a virtudes revolucionárias; em nome da “verdade objetiva”, da mentira fez-se ciência, e a realidade foi substituída pela ficção; eliminou-se a memória das pessoas e reinventava-se sua história, enquanto lhes assegurava estarem justamente a “fazer história”; em nome do internacionalismo, isolaram o país do mundo; em nome da liberdade e da qualificação moral, roubaram a milhões de pessoas sua liberdade e dignidade pessoal; finalmente, assassinaram com inabalável consciência limpa, centenas, milhares, centenas de milhares de pessoas, atiraram-nas em fossas comuns, toda manhã queimava-nas em crematórios das capitais ou enterrava-na, isoladas, na paisagem – em nome da humanidade e de seu progresso. (KOENEN, Gerd. Utopia do Expurgo – O que foi o comunismo? Ijuí/RS: Ed. Unijui, 2009, pp. 19-20
O Sistema Comunista Mundial, assim denominado em 1984 por Annie Kriegel era composto por vários círculos concêntricos. No centro – na origem e desde a origem – reinavam o Partido-Estado soviético e seu regime totalitário: o partido único, a ideologia obrigatória, o controle absoluto da mídia e do ensino, o monopólio dos meios de produção e de distribuição, o terror ou a sua ameaça permanente, o duplo fechamento do país tanto para os estrangeiros que desejassem entrar, quanto para os nacionais que aspiravam sair.
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Ao contrário das vítimas do Muro de Berlim, as da barreira quilométrica que separava a Alemanha Oriental da Ocidental não costumam ser objeto de estudo. Projeto da FU Berlin pretende revelar quem foram essas pessoas.
No dia 13 de agosto de 1961, o regime comunista da República Democrática da Alemanha (RDA) deu início à construção do Muro de Berlim, o próprio símbolo da divisão do país. Por sua vez, a longa fronteira que separava a Alemanha Oriental da Ocidental chamava bem menos a atenção pública mundial – uma imagem que pesquisadores da Universidade Livre de Berlim (FU Berlin) pretendem mudar.
Ligada à universidade berlinense, a Forschungsverbund SED-Staat – associação de pesquisa sobre o regime do Partido Unitário Socialista (SED, única facção política da Alemanha Oriental) – investiga sistematicamente quantas pessoas foram mortas na fronteira entre as Alemanhas, até o fim da divisão do país, em 1989. Naturalmente já existem dados sobre essas vítimas, porém oriundos de diferentes instituições e, em parte, controvertidos.
Assim como o Muro de Berlim, toda a região de fronteira entre a Alemanha Oriental e a Ocidental era fortemente vigiada. E isto, já desde 1949, quando o país foi politicamente dividido, em decorrência da Segunda Guerra Mundial. Do lado ocidental, fundou-se a República Federal da Alemanha (RFA), do lado oriental, a República Democrática Alemã (RDA) – a qual, apesar do nome, era uma ditadura comunista.
Desde o início, a Alemanha Ocidental foi mais bem-sucedida do ponto de vista político e econômico, exercendo, portanto, forte atração sobre os habitantes da RDA. Milhares de cidadãos deixavam o lado oriental a cada dia. Para estancar essa sangria humana, o SED instituiu em 1952 uma área restrita de cinco quilômetros de largura. Medindo quase 1.400 quilômetros, a fronteira interna estendia-se do Mar Báltico até Vogtland, na Saxônia. Quem se arriscava a cruzar essa faixa podia ser preso ou, no pior dos casos, executado.
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