quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Nivelando por baixo



BLOG MISTER X

Na Suécia, a cozinheira de uma escola pode ser obrigada a preparar uma comida de pior qualidade. O fato é que seus lanches eram tão gostosos que teriam colocado as outras escolas em desvantagem. "Injustiça!", gritaram os suecos.

Como na Suécia Socialista a competição é muito mal vista (*), em nome da igualdade geral todos terão que ser obrigados a comer uma comidinha mais insossa. A cozinheira não poderá mais assar o próprio pão fresco como costumava, mas deverá comprá-lo já pronto no supermercado, como fazem todos os outros nas outra escolas, e a variedade do bufê de vegetais será cortada pela metade, para adequar-se ao menu oficial aprovado pela Secretaria de Educação.

(Eu sugeriria, para ainda maior igualdade, que os lanches de todas as escolas suecas sejam colocados em um liquidificador gigante até serem transformados em uma papa homogênea, e apenas então distribuídos às crianças. Todos finalmente iguais!)

Esta história, embora não tão grave como outras que vemos e ouvimos, demonstra de forma perfeita a insanidade igualitária que tomou conta do Ocidente, e que se continuar nesse ritmo nos levará à ruína. Como é impossível que tudos tenham tudo do bom e do melhor, a tendência será sempre a de igualar todos rumo a um mínimo denominador comum: nivelar por baixo.

Quando Kurt Vonnegut escreveu "Harrison Bergeron" nos anos 50, um belo conto sobre uma sociedade na qual os mais bonitos ou talentosos são penalizados para não se destacarem acima da média, ele provavelmente não sabia que estava sendo tão profético...

Vejo essa nivelação por baixo em quase todos os aspectos da sociedade. Por exemplo, as pessoas hoje, seja de que classe forem, se vestem cada vez pior. A tendência é todos usarem jeans e camiseta ou outras roupas bem informais. Claro, os ricos continuam se destacando usando um jeans da moda que custa 800 dólares e uma camiseta de marca que custa 400, além de uma bolsa que custa 3.000, mas são diferenças sutis. O fenômeno da tatuagens, que antes servia para identificar marginais e rednecks, hoje universalizou-se até para as classes mais elevadas (mas ainda há diferença, com os pobres tatuando dragões gigantes e os classe média símbolos mais discretos).

E a música pop atual? Acredito que faça parte do mesmo fenômeno de nivelação por baixo. No outro dia, assisti a um vídeo clipe no Youtube que me deixou prostrado, triste, indiferente a tudo e a todos, já quase não me importando se o Ocidente acabar ou não.

A canção, se é que podemos chamar assim, é "Stupid Hoe" (Puta Estúpida), de uma certa Nicki Minaj. Eu achava que o auge da decadência ocidental e da extravagância do pop atual tinha sido Lady Gaga, mas estava enganado. Sempre há o que piorar.

Se eu fosse malvado, pediria aos leitores que assistam ao vídeo até o fim. (Não vou pedir, cliquem apenas se tiverem coragem.) Em vez de música, há cacofonia. Em vez de uma voz cantando, há uma voz gritando e estrilando. O vídeo em si parece querer propositalmente causar epilepsia. E a letra, bem, além de extremamente vulgar, não faz sentido algum. O refrão, que talvez seja autobiográfico, é: "puta estúpida, puta estúpida, puta estúpida!"

Alguns dirão que a culpa é da moça ser negra. Discordo. Perto dela, Louis Armstrong é Caruso e Thelonius Monk é Mozart. A verdade é que eu gosto de várias coisas da música negra americana, em especial dos anos trinta aos cinqüenta. A discussão, neste caso, tem mais a ver com a decadência da música pop e do Ocidente em si. (Madonna e Lady Gaga são brancas, e são tão patéticas quanto.)

Acredito que tenha a ver com o fato de que antes todos, até mesmo os negros, se miravam nos exemplos de arte superior que era produzida, e tentavam emular isso, inclusive na aparência. Hoje, já não há qualquer critério de qualidade ou mesmo interesse nela, o que explica o rap nos EUA e o funk no Brasil.

No mais, é claro que o discurso igualitário vale para alguns mas não para outros, afinal os ricos e os políticos, mesmo na Suécia, certamente continuarão comendo do bom e do melhor. Uma das ironias da "era igualitária" é que esse discurso vem sendo promovido com cada vez maior insistência desde os anos 60, mas nesse meio-tempo a desigualdade só cresceu, cada vez mais. E os maiores igualitaristas são aqueles que menos perdem com o igualitarismo, quer dizer, como dizia Orwell, todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros.

Eu, pessoalmente, gostaria de mandar todos esses igualitaristas ricos para morarem em Cuba ou na Venezuela! Afinal, é claro que igualdade no dos outros é mero refresco...

(*) A Suécia gosta tanto de igualdade que tem até um Ministro da Igualdade (Jämställdhetsminister). Naturalmente, não poderia ser um sueco nativo, portanto é uma africana nascida no Burundi, com um pai cristão e uma mãe muçulmana, para bem do povo e felicidade geral da nação. A verdade é que os povos nórdicos e especialmente escandinavos tem forte tendência igualitarista, e foram os alemães que inventaram o atual welfare state, com o Bismarck. Então, que se danem. E nós, que seguimos a onda, também.

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