sábado, 20 de setembro de 2014

O pobretão MUJICA é um milionário



A esquerda romântica encontrou em Pepe Mujica um novo ídolo. Afinal, fica difícil aplaudir petistas e bolivarianos em geral como exemplos da postura espartana daqueles que rejeitam supostamente a ganância e a “ditadura” dos mercados consumistas. O presidente uruguaio, com aquele estilo molambo e as unhas sujas à mostra, fazia um estilo irresistível para os que cultuam o pobrismo – e nunca são os próprios pobres.

Mas vejam que interessante: o patrimônio do homem aumentou mais de 70% em apenas dois anos, e hoje ele já é praticamente um milionário! Ele teria, oficialmente, mais de R$ 700 mil acumulados em bens, em propriedade privada, o demônio para os comunistas. É uma quantia que despertaria a inveja de muito trabalhador por aí. Como conciliar isso ao estilo humilde do sujeito descolado que não liga para bens materiais?

É verdade que Mujica ainda pode ser visto como um pobretão, quase um miserável se comparado ao alto escalão do PT, com vários milionários, a começar por Lula, o ex-operário e “homem do povo”. Mas não pode ser tratado como “humilde” frente a milhões de brasileiros, que labutam de sol a sol para chegar ao final do mês com pouca dívida a pagar. Tratei do assunto em Esquerda Caviar:

Em A elegância do ouriço, Muriel Barbery usa uma das narradoras, uma menina muito inteligente de 13 anos, para descrever o desconforto com essa atitude [de ricos que enaltecem a pobreza, no caso sua mãe]. Elas moram em um endereço de luxo em Paris, repletas de conforto. Não obstante, sua mãe vive a pregar o socialismo, entre uma conversa e outra com suas plantas. E claro, mesmo depois de dez anos de terapia, ela ainda precisa tomar remédio para dormir…

O autor coloca na outra narradora da história, uma concierge humilde, porém extremamente culta, as palavras de desprezo em relação ao grupo de riquinhos mimados que tentam aparentar um estilo artificial de pobreza cool:

Se tem uma coisa que abomino, é essa perversão dos ricos que se vestem como pobres, com uns trapos que ficam caindo, uns bonés de lã cinza, sapatos de mendigo e camisas floridas debaixo de suéteres surrados. É não só feio mas insultante; nada é mais desprezível que o desprezo dos ricos pelo desejo dos pobres.

No entanto, basta frequentar uma faculdade privada para ver a quantidade de jovens que aderem a esse estilo “riponga”, com suas camisetas do Che Guevara, apenas para entrar depois em seus carros importados do ano. São os “revolucionários de Facebook”, que escrevem em seus perfis da rede social americana o quanto odeiam o sistema capitalista americano e o lucro que tornou o instrumento viável.

É fácil enaltecer o estilo de Mujica quando não se é pobre de verdade. Afinal, como sabia Joãozinho Trinta, quem gosta de pobreza é intelectual, já que pobre gosta mesmo é de luxo!

Rodrigo Constantino
 

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