quarta-feira, 3 de agosto de 2011

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA OAB




Exmo Sr Dr.

Ophir Cavalcante

M.D. Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

SAS Quadra 5 – Lote 1 – Bloco M –

Brasília – DF

CEP: 70070-939



Em 3 de Dezembro de 2009 enviamos ao seu antecessor, Ilmo. Sr. Dr. Raimundo Cezar Britto Aragão, uma carta aberta que iniciávamos com os seguintes dizeres:



“Sr Presidente, até aonde iremos chegar? Haverá um fundo de poço onde todos nós brasileiros ainda tenhamos que chegar assistindo escândalos e escândalos envolvendo todos os tipos de políticos dos mais variados escalões? Poderia V. Exª me dizer como é possível retornar para casa e explicar aos filhos o que é ética, decência, linha de conduta, caráter, honestidade, princípios? É possível ainda dizer que o nosso País, dito por muitos como do futuro, ainda tem algum com dignidade, com honra?



O intuito daquela carta era expor toda a minha indignação e certamente a dos brasileiros sérios e que pensam, sobre os escândalos que, naquela época, ecoavam pelos corredores do governo instalado no Distrito Federal com propinas, dinheiro nas cuecas e agradecimentos ao céu pela propina recebida. Naturalmente, além da exposição, havia o apelo à austeridade e seriedade dessa entidade para que, contando com o verdadeiro exército de advogados que dispõe, se levantasse em prol da decência e da ética. Sabemos que algum êxito foi obtido com a renúncia e até prisão do ex-governador.



Passados quase dois anos, volto à V. Exª e lhe repasso a mesma pergunta, ou seja, se é possível responder, aonde vamos parar. Porque, se para nós, homens sérios, de respeito, com ética e moral, é angustiante continuar assistindo aos desmandos e desmazelos com o dinheiro público em todas as esferas do poder, para essa camarilha não há limites ou qualquer sinal de que se sintam sequer remotamente afetados ou incomodados. E mais: a lei não os assusta, já que, a cada dia, mais e mais escândalos ocorrem e apenas viram notícias de jornal, que desaparecem da mídia em poucos dias, para dar lugar a outros e novos escândalos.



O que podemos esperar de V. Exª como Presidente de uma entidade séria, independente e que sempre primou por levantar bandeiras contra verdadeiras barbáries perpetradas e cometidas contra nosso País e contra nosso povo? O que poderia o senhor, como paraense da gema, tentar fazer para que as pessoas de bem ainda possam ter esperanças nesse País?



Temos leis e mais leis, mas não vemos nenhum desses senhores presos. Há processos, há materialização de uma série de provas, principalmente expostas pela Polícia Federal, seja com documentos, seja com denúncias, seja com escutas, mas absolutamente nada ocorre, e escândalos se sucedem. Até quando?



Ainda que deixado de lado o grotesco episódio do dinheiro colocado em cuecas, o despropósito não tem fim. São propinas em faturamentos de obras públicas e, no máximo, ministros e assessores são apenas afastados de suas funções. Ou é o recebimento por pessoas ligadas ao governo federal e de enorme influência política, de quantias absurdas a título de remuneração por assessorias feitas a “desconhecidos”. Ou, ainda, filhos de políticos que enriquecem da noite para o dia como se, num passe de mágica, se transformassem em verdadeiros "experts" nas mais variadas atividades, mesmo que se saiba que nem mesmo verdadeiros peritos, profissionais consagrados e maduros conseguem amealhar fortunas em tão pouco tempo como os filhos desses políticos.



Afora tudo isso, somos obrigados a assistir essa verdadeira esbórnia feita com dinheiro público no que se refere à Copa do Mundo de Futebol. É a construção de elefantes brancos em diferentes pontos do País, incorrendo-se em gastos astronômicos e, o que é ainda pior, quando se tem plena consciência de que, após a Copa, tais estádios para nada ou quase nada servirão, configurando, portanto, demonstração cabal de uso indevido do dinheiro público, um dinheiro que poderia ser empregado em muitas outras prioridades nacionais.



Repetindo o exposto na primeira carta, será que ainda poderemos ter esperança de ver V.Exª e o seu exército de advogados em luta contra esse estado de coisas? Sim, uma luta cívica e não uma guerra civil é o que deveria eclodir neste país, até porque somente tendo Deus como protetor esta terra poderá subsistir e sobreviver contando com um povo pacifico, ordeiro e principalmente trabalhador, mas que, diante de tanta podridão, tanto desmandos, não é capaz de uma postura mínima de indignação, um grito de “basta” a esse lixo em que se transformou nossa política e seus integrantes.



Talvez uma nova campanha encabeçada pela OAB em nível nacional comece a despertar na parcela pensante desse povo e contaminar a outra, imensa e inerte, a necessidade de uma grande união para que coloquemos toda essa espécie de gente para fora de todas as camadas políticas, sem exceção. Se não houver uma ação, uma atitude, com certeza mais casos irão aparecer, já que lamentavelmente nossas punições são extremamente brandas e nada intimida esses marginais instalados por todas essas instituições públicas.



O que podemos eu e o povo brasileiro sério esperar de V.Exª?



Espera-se ver ações concretas lideradas pela OAB em prol de uma sociedade que volte a pensar e trabalhar de forma honesta e que, acima de tudo, recupere a crença de que vale a pena levantar cedo e produzir.


Atenciosamente,

Antenor Pereira Giovannini

Brasileiro - 63 anos - Aposentado

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