sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O TEATRO PETRALHA PARA SAÍDA HONROSA DOS CORRUPTOS



Valor: Há o risco de o mal-estar com os partidos que tiveram ministros demitidos em 2011 se transformar em projeto de vingança contra a presidente Dilma?

Octavio Amorim: Sim, os principais conflitos do governo Dilma se dão dentro da base e não contra a oposição. O grande risco para a Dilma seria a ameaça de saída de todo o PMDB do governo. Os pequenos partidos são importantes, mas nenhum tem capacidade de dobrar a presidente. Ela não pode dispensar o apoio do PMDB. Esse partido tem de ser sempre muito bem tratado. Mas Dilma criou uma liturgia típica de demissões de ministros que foi justamente concebida para aplacar esse temores dos partidos, de que a presidente os ejetaria, os humilharia e os jogaria aos leões da opinião pública e da oposição.


Valor: Como é essa liturgia?

Amorim: São três pilares. Em primeiro lugar: as acusações sempre partem da imprensa. Em segundo: a presidente sustenta o ministro acusado até a situação dele se tornar impossível. O terceiro pilar é uma cerimônia de passagem do cargo marcada por elogios e aplausos. Esse terceiro aspecto é o mais burlesco e emite um sinal muito complicado: ao fim e ao cabo, o ministro caiu pela luta entre os partidos, como se estivéssemos numa república que não fosse animada por outros valores, como o correto exercício do poder público. Esses três aspectos da liturgia da demissão dos ministros da Dilma são muito coerentes. Procuram indicar para os partidos da base a enorme consideração que a presidente tem por eles.


Valor: Ela criou uma fórmula de saída honrosa.

Amorim: Sim. Mas o terceiro aspecto é que me parece desnecessário. Passa uma mensagem muito negativa. Ele nasce na cerimônia de saída do José Dirceu, como chefe da Casa Civil, em 2005 [durante a crise do mensalão]. Ele saiu aplaudido depois de ter sido apeado do poder por conta daquela denúncia que o [ex-deputado federal e presidente do PTB] Roberto Jefferson fez na Câmara. A matriz está ali e Dilma usou e perpetuou aquilo. Isso transmite um sinal muito pouco edificante para o eleitorado e para a nação.

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