Lula desenvolveu com Rosemary Noronha, a Rose, uma intimidade que ultrapassou as fronteiras do mero relacionamento funcional entre chefe e subordinada. Conversavam sobre temas pessoais, alheios às atribuições da chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo, exonerada por Dilma Rousseff após a deflagração da Operação Porto Seguro.
Ministros e parlamentares petistas que privam da amizade de Lula receiam que a investigação da Polícia Federal possa render-lhe constrangimentos. Preocupam-se menos com as suspeitas de malfeitos que pesam contra Rose e mais com os diálogos extrafuncionais que ela mantinha com o ex-chefe. Conversavam amiúde. E os contatos entre ambos sobreviveram à presidência de Lula.
Deve-se o temor dos amigos de Lula a eventuais inconfidências de Rose, que teve a memória do computador copiada pela PF e trocou e-mails e telefonemas com pessoas grampeadas durante o inquérito policial. A investigação começou em fevereiro de 2011. Em privado, o próprio Lula admite que, embora já fosse ex-presidente, manteve-se em contato com Rose.
Daí o frêmito que estremece o petismo desde o final de semana. A ponto de um ministro ter sido destacado em segredo para “acalmar” a servidora demitida. Daí também o interesse de parlamentares do PSDB em arrastar Rose e, no limite, o próprio Lula para prestar esclarecimentos no Congresso. “Eles não têm voto”, desdenhava, na noite passada, um deputado do PT.
Hora antes, informa a coluna Painel, editada pela repórter Vera Magalhães, o ministro petista José Eduardo Cardozo (Justiça), superior hierárquico da PF, repassara a Dilma Rousseff uma informação tranquilizadora. Rose não foi grampeada pela PF, disse o ministro à Presidente. Confirmando-se o informe do doutor, os investigadores sob seu comando talvez tenham dificuldades para explicar por que deixaram de executar uma providência tão comezinha em inquéritos do gênero.
Mercê do prestígio que desfrutava junto a Lula, Rose colecionou feitos incomuns para uma servidora de terceiro escalão. Convenceu o ex-chefe a indicar para agências reguladoras do governo os irmãos Paulo e Rubens Vieira, presos pela PF. Empurrou para dentro da folha do governo a filha Mirelle, que se demitiu nesta segunda-feira (26) de um cargo que lhe rendia contracheques de R$ 8,6 mil na Anac.
O poder incomum de Rose foi percebido em várias passagens da gestão Lula. Sem necessidade aparente, ela acompanhava o chefe em viagens internacionais. Por vezes, seu nome nem constava da comitiva oficial. Portadora de um cartão corporativo da Presidência, foi liberada de prestar esclarecimentos a uma CPI aberta no Congresso graças ao Planalto, que mobilizou a infantaria governista para brecar os requerimentos da oposição.
O prestígio de Rose voltaria a ficar em evidência na tramitação do nome de Paulo Vieira no Senado. A pedido dela, Lula indicou para a diretoria de Hidrologia da Agência Nacional de Águas o personagem que a PF agora chama de “chefe” da quadrilha que agenciava interesses privados no Estado. Conforme já noticiado aqui, foram necessárias três votações, muita pressão de Lula e uma manobra do aliado José Sarney (PMDB-AP) para que o nome fosse aprovado pelos senadores.
Lula conheceu Rose na década de 90, quando ela assessorava José Dirceu no PT. Eleito presidente em 2002, acomodou-a na função de assessora do escritório da Presidência em São Paulo. Em 2005, guindou-a ao cargo de chefe de gabinete. Em 2010, antes de passar a faixa presidencial para Dilma Rousseff, Lula pediu à sucessora que não bulisse com Rose. Foi atendido. Agora, Dilma informa que vai extinguir o cargo. Algo que apenas reforça a desnecessidade da servidora que, sob Lula, foi tratada como se fosse ultranecessária.
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