[João da Cruz e Souza, poeta negro, filhos de escravos, considerado o maior poeta do simbolismo, faleceu aos 36 anos, em 1898, vítima de tuberculose. Protegido e educado pela esposa do dono dos escravos, desde cedo, revelou aptidões intelectuais combatendo veementemente o preconceito racial.]
Cárcere das almas
Cruz e Souza
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades,
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza,
Quando a alma entre grilhões as liberdades,
Sonha e, sonhando, as imortalidades,
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas,
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves,
Para abrir-vos as portas do Mistério?!
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