domingo, 24 de novembro de 2013

Inspirado por Thatcher, partido inglês cria uma 'nova direita'

 

 

Inspirado por Thatcher, partido inglês cria uma 'nova direita' 


Margaret Thatcher está aqui, é claro. Estamos no luxuoso duplex londrino de um antigo conservador britânico, em Mayfair. O retrato da Dama-de-Ferro se destaca na parede, empertigada em seu volumoso cabelo laqueado. "Olhos de Calígula e boca de Marilyn Monroe", costumava dizer o presidente François Mitterrand a seu respeito. Para um verdadeiro "tory", a ex-premiê é mais do que isso. É um ideal, um ícone.

Stuart Wheeler, em sua sala em Mayfair, degusta seu chá com leite e seus biscoitos amanteigados, olhando ternamente para o retrato de "Maggie". Aos 78 anos, o rico empresário faz parte dos genuínos conservadores que sentem saudades dessa mulher linha-dura dedicada a seus valores: liberalismo econômico, conservadorismo político, tradicionalismo social.

Totalmente impertinente com seus pares do Conselho Europeu, sem dó pelos desassistidos de um Estado reduzido ao mínimo, conhecida por suas bolsadas distribuídas àqueles que a enfrentassem. Comparado com "Maggie", figura tutelar dos "tories" durões, David Cameron parece fraco, brando, um pragmático sem princípios mantido em coleira por sua coalizão com os centristas liberais-democratas. "Moderno e compassivo", como ele se autoproclamou.

Stuart Wheeler decidiu ir além. Por fidelidade aos "valores thatcherianos", ele deixou o Partido Conservador para aderir ao UKIP, pequeno partido pela independência do Reino Unido (United Kingdom Independence Party).

Foi em 2009, quatro anos após a chegada de Cameron à liderança dos conservadores e um ano antes de sua eleição como primeiro-ministro: Wheeler anunciou então sua intenção de votar no UKIP nas eleições europeias. "Cameron nos engambelou", ele diz. "Ele fingiu ser eurocético antes de ser eleito e nos prometeu um referendo sobre a saída da União Europeia que ainda estamos esperando".

O empresário foi expulso do Partido Conservador. Foi uma perda, já que ele havia feito uma doação de 5 milhões de libras esterlinas ao partido. O líder do UKIP Nigel Farage, exímio em persuasão, o convidou para jantar. Sendo ao mesmo tempo deputado da UE e anti-UE, ele se deleita com sua contradição; é um orador vivaz, frequenta os estúdios de TV, bola slogans criativos, é um defensor das elites, populista rebelde e alegre. "Um homem formidável", diz Stuart Wheeler, que agora é o tesoureiro e principal doador do UKIP: de 400 mil a 500 mil libras há quatro anos. "Não sou tão rico quanto era quando doei 5 milhões aos conservadores", ele observa, com modéstia.

Os tabloides adoram Farage e ele usa isso em sua vantagem. É a eles que ele se dirige a partir de Bruxelas, que interessa os ingleses tanto quanto a neblina. E, através deles, a todos os nostálgicos dos "valores thatcherianos". O líder acrescenta sua própria retórica populista, de protesto, anti-elite, anti-sistema. "O UKIP é ainda mais ameaçador para os 'tories' por ser o primeiro partido não tóxico à direita dos conservadores", analisa Peter Kellner, presidente do instituto de pesquisas YouGov.

Ele não tem nenhum antecedente fascista, nenhuma tentação revisionista nem ideologia racista, defende o liberalismo econômico e se distingue dos partidos de extrema direita como o British National Party ou a Frente Nacional francesa, impopulares no Reino Unido, de quem ele teve o cuidado de manter distância. O UKIP, partido ortodoxo da direita populista, cultiva dois temas principais: a imigração dos europeus do Leste e a saída da União Europeia.

É um sucesso popular garantido. Mais do que a União Europeia, a imigração é o tema que funciona. Os dois estão ligados. No dia 1o de janeiro de 2014, os romenos e os búlgaros poderão trabalhar livremente na UE. Depois dos poloneses, acusados de quebrar as regras do mercado de emprego por salários irrisórios, a ameaça dos romenos e dos búlgaros dá um argumento a mais ao UKIP: o Reino Unido deve sair o mais rápido possível da terrível União Europeia estatista, intrusiva, onerosa. Conforme queríamos demonstrar.

O UKIP se tornou o temor inconfesso de David Cameron. Ele adquiriu um poder político incrível, sem parecer: fundado em 1993, esse pequeno partido possui somente 32 mil membros e nenhum representante na Câmara dos Comuns, onde seus treze deputados fazem dele o segundo maior partido britânico, atrás dos conservadores e à frente dos trabalhistas.

Entre os conservadores mais à direita, as estratégias divergem. "Não espero que o UKIP esteja no poder: quero que ele pressione Cameron para que os 'tories' voltem a ser 'tories'", diz Stuart Wheeler. "Não, o UKIP é um incômodo para nós! Estou decepcionado com as concessões de Cameron aos liberais-democratas, mas ele é nosso líder e precisa vencer em 2015!", se revolta David Ruffley, assim como outros deputados "tories".

Em ambos os casos, o sucesso conseguido pelo pequeno partido soberanista e eurófobo obriga David Cameron a adotar parte de sua retórica radical. Se ele propôs em janeiro um referendo sobre a saída da UE, foi por causa do UKIP. Se ele endureceu seu discurso sobre a imigração, também foi por causa do UKIP. De 10% a 12% dos eleitores da UKIP vêm do Partido Conservador.

As eleições europeias de maio de 2014, que prometem ser uma grande catarse populista, serão um teste crítico em Londres. O UKIP está com 20% a 30% das intenções de votos. "Se elas fossem realizadas hoje, o UKIP seria o maior partido i

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