quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Lula tem o direito de internar-se onde quiser. Os brasileiros têm o direito de exigir que não conte mentiras sobre o sistema de saúde
Augusto Nunes
Em abril de 2006, em Porto Alegre, o presidente Lula gabou-se de outra proeza hiperbólica: “Eu acho que não está longe da gente atingir a perfeição no tratamento de saúde neste país”. (Passados cinco anos e meio, pode-se presumir que esteja mais que perfeito.) Em novembro de 2009, condoído com as carências do sistema de saúde americano, presenteou o colega da Casa Branca com a solução: “Obama, faça o SUS”. Em janeiro de 2010, ao inaugurar no Recife uma Unidade de Pronto Atendimento, reafirmou que fizera em nove anos o que todos os outros não fizeram em 500: “Eu tava visitando a UPA, e eu tava dizendo que ela tá tão bem organizada, ela tá tão bem estruturada, que dá até vontade de a gente ficar doente para ser atendido aqui”, garantiu. Neste fim de outubro, surpreendido por um câncer, tratou de internar-se no Sírio-Libanês.
Integrante da reduzidíssima elite de brasileiros providos de muito dinheiro e plano de saúde de primeira grandeza, Lula tem o direito de recorrer aos serviços dos melhores hospitais da rede privada. Ao consumar tal opção, contudo, confere a todos os pagadores de impostos o direito de exigir que pare de tentar enganá-los com bravatas, lorotas ou mentiras deslavadas. O sistema de saúde só funciona no Brasil Maravilha registrado em cartório. No país real, transforma-se com desoladora frequência no outro nome da morte sem atendimento.
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