- Então, assim como Osman Bey, talvez o sr o conheça, quer que os judeus sejam destruídos
-Osman Bey é um fanático e, além disso, é judeu. Melhor manter distãncia dele. Eu não quero destruir os judeus, até ousaria dizer que os judeus são meus melhores aliados.Estou interessado na firmeza moral do povo russo e não desejo que esse povo dirija suas insatisfações contra o czar.Portanto ele precisa de um inimigo.É inútil ir procurar o inimigo , entre os mongóis ou entre os tártaros, como fizeram os autocratas antigamente.Para ser reconhecível e temível o inimigo deve estar em casa ou na soleira de casa. Eis por que os judeus.Eles nos foram dados pela Divina Previdência , então vamos usá-los , meu Deus, e rezemos para que sempre haja um judeu para temer ou odiar.É necessário um inimigo para dar ao povo uma esperança.Alguém já disse que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas :quem não tém principios morais costuma se enrolar em uma bandeira , e os bastardos sempre se reportam à pureza de sua raça. A identidade nacional é o útlimo recurso dos deserdados. E o senso de identidade se baseia no ódio., no ódio por quem não é idêntico. É preciso cultivar o ódio como paixão civil.O inimigo é o amigo do povo.É sempre necessário ter alguém para odiar, para sentir-se justificado na própria miséria. O ódio é a verdadeira paixão primordial. O amor, sim, é uma situação anômala. Por isso, Cristo foi morto : Falava contra a natureza.Não se ama alguém por toda a vida, porém, pode-se odiar alguém por toda a vida, desde que esse alguém esteja sempre ali, para reacender nosso ódio.
CEMITÉRIO DE PRAGA
UMBERTO ECO
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