Após enviar fax ao STF prometendo novas informações sobre o mensalão, o operador do esquema falou ao Ministério Público; e pediu proteção à Justiça, segundo o jornal “O Estado de São Paulo”.
Em sua edição desta semana, VEJA revela que Marcos Valério, o operador do mensalão, informou ao Supremo Tribunal Federal (STF), por meio de um fax enviado à Corte em 22 de setembro, seu desejo de prestar novas declarações ao tribunal sobre o esquema. O empresário, cuja pena foi estipulada dias depois em mais de 40 anos de prisão, mencionou também a lei da delação premiada e a obrigatoriedade de as autoridades darem proteção a cidadãos que corram risco de vida. O fax foi encaminhado ao Ministério Público (MP) pelo presidente do STF, Carlos Ayres Britto. Pouco depois, Valério prestou novo depoimento ao MP. Reportagem na edição desta quinta-feira do jornal O Estado de S. Paulo informa os assuntos abordados pelo empresário durante a audiência. De acordo com a publicação, Valério voltou a envolver o nome do ex-presidente Lula no esquema – e citou, ainda, o do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.
Investigadores ouvidos pela publicação disseram que Valério informou o MP a respeito de outras remessas feitas ao exterior durante a vigência do esquema de corrupção, além das julgadas pelo Supremo. No julgamento do mensalão, a Corte analisou vários pagamentos feitos a Duda Mendonça no exterior, e acabou absolvendo o publicitário. A íntegra do depoimento de Valério é mantida sob sigilo. Ao informar à Procuradoria já ter sido ameaçado de morte, o operador do mensalão citou o caso do assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, em São Paulo.
Semanas antes do depoimento, VEJA publicara em reportagem um resumo dos segredos do mensalão até então guardados por Valério. Entre eles, a revelação sobre o papel de protagonista de Lula no esquema. “Só não sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio e o Zé não falamos”, disse, referindo-se ao ex-tesoureiro petista Delúbio Soares e ao ex-chefe da Casa Civil José Dirceu.
Para dar mais informações ao MP, Valério pede sua inclusão no programa de proteção a testemunhas – acordo que, se aceito pela Procuradoria, poderia livrá-lo da cadeia. As informações do empresário, contudo, são vistas com ressalvas pelo MP – afinal, suas promessas de contar tudo o que sabe são recorrentes, mas jamais foram cumpridas. Desde a descoberta do escândalo, Valério ameaça Lula e a cúpula do PT. De início, cobrou uma milionária compensação financeira em troca de seu silêncio. Com a proximidade do julgamento, interlocutores do ex-presidente prometeram ajudá-lo no STF. Não foi o que ocorreu.
Palocci e as denúncias
Em 2006, no epicentro do escândalo do mensalão, o então ministro da Fazenda caiu no olho do furacão da crise política. Num depoimento à polícia e ao Ministério Público de São Paulo, o advogado Rogério Buratti, ex-secretário de Governo da primeira gestão de Palocci como prefeito de Ribeirão Preto (1993-1996), acusou-o de receber um mensalão de 50 000 reais de uma máfia de empresas que fraudavam licitações públicas de coleta de lixo em prefeituras de São Paulo e Minas Gerais.
Os fatos relatados por Buratti referem-se a eventos que precedem a chegada do PT ao governo federal. Mas VEJA teve acesso a documentos, e-mails e grampos telefônicos, colhidos pela Justiça em quase dois anos de investigação, que contêm indícios graves do envolvimento de Palocci, já ministro, com Buratti e sua turma.
As gravações legais, quase todas feitas pela interceptação de conversas de Buratti com empresários, mostram que o ex-assessor oferecia encontros com o ministro. Muitos deles, efetivamente, ocorreram. As conversas dão conta ainda de que integrantes da Máfia do Lixo resolviam seus problemas usando a própria estrutura do Ministério da Fazenda. Há mais. Em um e-mail, Juscelino Dourado, então chefe-de-gabinete de Palocci, pede, em nome do "chefe", ajuda de Buratti para comprar um aparelho de espionagem telefônica. O suposto pagamento de um mensalão de 50.000 reais ao então prefeito Palocci, entre 2000 e 2002, teria sido recebido por Ralf Barquete, na ocasião secretário de Finanças de Ribeirão Preto. Este, por sua vez, "com a autorização de Palocci", segundo Buratti, repassava o dinheiro a Delúbio Soares, tesoureiro do PT.
Caso Celso Daniel
Prefeito de Santo André e coordenador da campanha de Lula, Celso Daniel foi sequestrado ao sair de uma churrascaria e morto em circunstâncias misteriosas em janeiro de 2002. O caso chocou o país. As investigações também: seguindo um estranho roteiro, a procura pelos assassinos esbarrava sempre em evidências de corrupção. E mais mortes. Sete pessoas ligadas ao crime morreram em circunstâncias também misteriosas, entre acusados, testemunhas, um agente funerário, um investigador e o legista do caso.
Familiares afirmam desde o início do caso que a morte do prefeito é um crime político em torno de um esquema de propina em Santo André que era do conhecimento da cúpula petista. É também a tese do Ministério Público: desentendimentos sobre a partilha dos recursos teriam motivado o assassinato
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