Leio na Folha, em reportagem de Felipe Seligman, que Dilma decidiu dar algumas dicas ao papa e, acreditem, um discreto puxão de orelha no Sumo Pontífice. Foi até mais ousada do que Cristina Kirchner. Ensinou a devota da deusa Nossa Senhora de Forma Geral:
Eu acho que ele tem um papel a cumprir. [A defesa dos pobres] é uma postura importante. É claro que o mundo pede hoje além disso. Que as pessoas sejam compreendidas e que as opções diferenciadas das pessoas sejam compreendidas.
A fala deixa entrever que, para Dilma, a Igreja Católica anda descolada do mundo. Com 10 anos à frente do governo brasileiro, é razoável que puxe a orelha de um trono de dois mil anos. Cumpre indagar: qual diferença a Igreja Católica não respeita? O cristianismo é justamente a religião que nasce das diferenças, que se anulam pela conversão! Ademais, a Igreja pretende falar ao mundo e fala mesmo, ou não se daria tamanha importância ao papa , mas suas orientações valem para seus fiéis. Tampouco os Estados nacionais estão obrigados a seguir seus princípios. Por que, afinal, é tão importante que a Igreja diga sim a práticas que se chocam com seus próprios fundamentos?
Quem disse que a Igreja não respeita as opções diferenciadas, seja lá o que ela tenha querido dizer com isso? Alguém tem notícia de fiéis perseguidos pela Igreja Católica, dentro e fora dos templos, por conta de suas escolhas? Dilma não é católica. Dilma não sabe nada do catolicismo. Dilma não é nem mesmo obrigada a saber razão por que deveria, então, calar-se. Mas dá para entender. Tem em mente os padrões de certa política brasileira, não é? A Igreja abraça o pecador, mas não o pecado. É diferente dos petistas, por exemplo, que ficam logo com os dois: o Zé Dirceu vira herói, e a corrupção passiva e a formação de quadrilha são elevadas à condição de arte. É o que os petistas chamam de opções diferenciadas. Aliás, a base de apoio de Dilma é uma verdadeira coleção de opções diferenciadas no cotejo com a moral e os bons costumes.
reinaldo azevedo
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