quarta-feira, 2 de maio de 2012

Por que o país é tão rico e a nação é tão pobre?




Ivone Boechat



Não precisa ser economista formado na Harvard para ter certeza da origem do enriquecimento estrondoso e vertiginoso deste país. Quando se divulgou que o Brasil tem mais dinheiro nos bancos do que a Inglaterra, ninguém duvidou. Vá hoje conferir a conta bancária do professor, do médico iniciante, da enfermeira, do bombeiro, da polícia honesta, de todos os aposentados, de todos os profissionais operários, gemendo e se contorcendo no trabalho forçado pendurado no trem, no ônibus entupido, no engarrafamento de horas e horas e de todas as pessoas que estudaram, se esforçaram, se dedicaram, contribuíram para sonhar com um mínimo para a sobrevivência e veja o saldo negativo da injustiça ali depositada. Mas o país é a sexta potência!

Não precisa ser experto em nada, basta olhar a situação das escolas públicas, a maioria só tem chocalhos (computadores, laptop tablet). Procura professor de matemática, ciências, história.... Experimenta olhar pra cima, se o telhado não cair na cabeça, abra o guarda-chuvas, porque ali só as goteiras provocam mudanças, melhor explicando, as crianças mudam de lugar para não se encharcarem. Na conta da moralização da educação não tem o suficiente nem para pagar o mínimo do professor. Mas o país é a sexta potência!

Não precisa ser especialista em saúde, basta o cidadão precisar de atendimento médico, para uma simples disenteria e o "atendimento" é um vexame, o sujeito desidrata e nem desmaiar consegue por falta de espaço para cair. Fica em pé ali, até desistir... Imagina então alguém que precise disputar uma vaga no vestibular da morte e ser aprovado em primeiro lugar para sofrer na UTI, numa cama de corredor (do quarto nem pensar) na maca do pronto-socorro (que deveria mudar o nome para matadouro)? O dinheiro que deveria ser investido na saúde nunca chegou há tempo. Mas o país é a sexta potência!

Não precisa ser gênio para decifrar o código de prioridades deste país, que resolveu ficar riquíssimo às custas do flagelo da nação. Passe pelas astronômicas obras das Olimpíadas, da Copa. Não falta verba. Não que não sejam importantes, mas olhe como vivem os brasileirinhos nas encostas dos rios na Amazônia. Não precisa ir tão longe, dê uma volta nos arredores de qualquer cidade. Mas o país é a sexta potência!

Não precisa ser o homem mais informado do mundo. Passe na casa de um presidiário e olhe na geladeira ou no armário o estoque de compras. Todo mês entra ali o auxílio reclusão. Faça a mesma supervisão na casa da mulher que perdeu o marido com um tiro na cabeça... Total abandono! Por que não assistir também às vítimas? Ou então desemperrar o processo de indenização no Fórum, que só se resolve depois que a vítima morreu na véspera de receber? O preso custa, em média, ao Estado (nós) R$ 2,7 mil e o aluno custa R$ 300,00. A escola ruim ajuda a sustentar o número crescente de presos adolescentes. Mas o país é a sexta potência!

Não precisa comprar uma passagem para conhecer Brasília, porque a TV, a internet e os programas de futilidades sociais mostram a toda hora a esbanjação nos coquetéis das comissões de alto nível e o nível é tão alto que a comissão não consegue chegar nos problemas que se contorcem nas gavetas, onde ficam arquivados milhões de processos: revisão de aposentadorias corroídas pelo desprezo e todo tipo de pedido de socorro, em todas as áreas sociais! Tudo ali se arrasta há anos! Mas o país é a sexta potência!

Não precisar ser Ph.D. em finanças. O Brasil é a sexta economia mundial! O brasileiro sabe como o país está ganhando essa Olimpíada! Sabe, porque dói no corpo e na alma dos raquíticos atletas o horror de impostos cobrados com juros e correção monetária: uns 83 tributos. Sem falar no laudêmio, pedágio, aforamento e tarifas públicas... Que não são considerados tributos. Apenas os recursos referentes às taxas têm destinação específica. Os demais recursos arrecadados, que são o suco do suor de milhões de brasileiros, podem ser usados da maneira que melhor aprouver aos governantes. O país é a sexta potência!


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