quinta-feira, 14 de junho de 2012

Retrato de um calhorda



De Augusto Nunes


PRIMEIRO CAPÍTULO

Entre julho de 2006 e agosto de 2006, o deputado federal Eduardo Paes, do PSDB fluminense, um dos mais veementes representantes do partido na CPI que apurou o escândalo do mensalão, fez as seguintes declarações:




“É preciso investigar o inexplicável crescimento do patrimônio dos filhos do presidente”.




“Lula sabe de tudo. A sede da quadrilha do mensalão é o Palácio do Planalto.




“O conjunto de escândalos que envolvem o governo é tanto, e a desfaçatez dos principais atores envolvidos neles tão grande, que às vezes parece que a CPI não conseguiu ainda provar muita coisa” .




“Comprovamos o mensalão com cópia de recibo e tudo. Como é que o Lula ainda tem coragem de negar?”




“Claro que Lula sabe quem é Delúbio Soares. Ele sabe de tudo”.



SEGUNDO CAPÍTULO

Durante a campanha eleitoral de 2008, depois de ter mendigado o apoio de Lula e implorado o perdão de Marisa Letícia por ter dito o que dissera sobre a Primeira Família, a nova versão de Eduardo Paes, candidato a prefeito do Rio pelo PMDB, fez as seguintes declarações:




“A gente tem que ter muita calma antes de sair apontando o dedo para as pessoas”




“Pedir desculpas pelos erros cometidos não envergonha ninguém”.




“Reconheço que exagerei nos trabalhos da CPI. Fiz acusações sem consistência e denúncias sem fundamento”.




“É uma honra estar ao lado do grande governador Sérgio Cabral e do maior presidente que este país já teve”.




“Não falo sobre o mensalão”.



TERCEIRO CAPÍTULO

Neste sábado, em campanha pela reeleição, o homem que vendeu a alma para virar prefeito do Rio discursou no Congresso Nacional da União da Juventude Socialista. Dois dos piores momentos do palavrório:




“Você já superou a crise. Vai se eleger vereador de São Paulo” (dirigindo-se a Orlando Silva, demitido por corrupção do ministério do Esporte).




“Daniel, é assim mesmo. O problema é o seguinte: as eleições estão chegando. Como a UNE se posiciona, fica difícil não apanhar” (dirigindo-se a Daniel Iliescu, presidente da União Nacional dos Estudantes Amestrados, envolvido até o pescoço no desvio de dinheiro tungado dos cofres públicos graças à celebração de convênios malandros com seis ministérios).



Eduardo Paes chegou à prefeitura de joelhos. Pode acabar saindo na traseira de um camburão.

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