terça-feira, 9 de agosto de 2011

A CASINHA DE PAPELÃO DE DONA DILMA



Por Celso Arnaldo Araújo



Quase tudo o que se lê atribuído à Dilma, quando transcrito literalmente, parece trote, pegadinha, erro de transcrição – porque decididamente não é possível que uma pessoa que tenha curso superior, só não é doutora por um triz e chegou à presidência da República do país que é a “oitava economia do mundo” se expresse desse jeito.

Além de falar uma espécie de patois brasileiro, pouco assemelhado à língua culta do país que preside, faz associações de palavras que não seriam usadas por um aluno de escola fundamental numa redação. As improváveis “casas de papel”, objeto de sanatório nesta coluna, se enquadram na categoria.

Mas Dilma disse exatamente isso – foi numa entrevista concedida às rádios Grande Rio AM (Petrolina/PE) e Juazeiro AM (Juazeiro/BA) semana passada. E a transcrição está no próprio Blog oficial do Planalto, que agora reproduz ipsis literis, sem tirar nem pôr, ao lado da gravação eletrônica, discursos e entrevistas da presidente Dilma. Justiça seja feita, é uma extraordinária contribuição do poder público aos raros abnegados da iniciativa privada que se dedicam à pesquisa e ao estudo do dilmês, antes obrigados a despender tempo, energia e massa cinzenta para fazer uma transposição mais penosa que a do Rio São Francisco.

A resposta da “casa de papel” ao radialista baiano foi exatamente esta:

– Mas o povo brasileiro não tinha nem casinha. O povo brasileiro tinha o quê? Morava em casas de papel, em palafitas. Esta casinha, como você está dizendo – imagino que a sua casa seja grande.

Repare: ela não fala em casas de papelão, que eventualmente devem existir até a 20 quilômetros do Palácio do Planalto, mas de papel mesmo — sulfite, almaço, embrulho, jornal. E palafitas eram da cota de FHC? Depois de quase nove anos de governo Lula/Dilma, a “stilt house” ainda é um “brazilian housing style” no rigor da moda em quase todos os estados do norte ou nordeste. E notou uma ponta de sarcasmo na resposta? Lógico, madame ficou irritada com a pergunta do jornalista:

– Por casinha?

O jornalista só queria confirmar a estranha sequência de números apresentada por Dilma na resposta anterior, ao falar do custo dos imóveis e garantir que, no Brasil Maravilha, há um canteiro de obras com três milhões de construções para quem não tem casa:

– Isso hoje ocorre. E mais: ocorre para a população que não tem dinheiro. Qual é essa população que não tem dinheiro? Não é que ela não tenha nenhum, é que a conta não fecha. Por que a conta não fecha? Hoje uma casa, em média, que nós pagamos pela Caixa Econômica Federal – e aqui está o presidente da Caixa – ela fica em torno de 50, 51, 52 mil reais.
Ou seja: Dilma tenta explicar que a população que não tem dinheiro para comprar uma casa é justamente aquela que não tem dinheiro.

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