Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Bangu, tarde ensolarada. Detento puxa conversa com o novo colega de cela:
– Ei, por que você foi preso?
– Meu filho me denunciou para o Conselho Tutelar. Ele me desobedeceu e foi brincar em vez de estudar, depois tirou zero na prova, e ainda agrediu verbalmente a mãe quando demos uma bronca nele. Não resisti: dei-lhe uma palmada. Foi um ato involuntário. Perdi o controle, reconheço. Fui enquadrado na Lei da Palmada. E você?
– Acendi um cigarro dentro de casa. Local fechado é proibido. Minha empregada me denunciou para o Conselho de Saúde e Higiene. Argumentou que sua saúde estava em risco por conta do meu cigarro. Já é a segunda vez que vou preso. Antes foi por exagerar na fritura em plena praça pública. Os Agentes da Saúde me pegaram no flagra, com o agravante de ter crianças no local.
– E aquele outro ali, calado no canto? Você sabe por que ele está aqui?
– Sim. É um pequeno empresário. Tinha a concessão de TV para um município do interior, e cometeu a imprudência de transmitir uma propaganda de doces no meio da tarde! Os fiscais do Conselho Tutelar foram no mesmo dia com dez viaturas da polícia e prenderam o homem, e depois ainda fecharam sua emissora. Ele parece estar em depressão.
– Puxa vida. E aquele ali, agitado ao extremo?
– Esse foi preso ao tentar comprar uma aspirina com receita médica falsificada. Ele alega ter forte dor de cabeça, mas estava sem dinheiro para uma consulta médica particular, e a fila do SUS...
Enquanto os dois continuavam conversando, lá fora do presídio uma grande estátua do Grande Líder Lula brilhava aos últimos raios crepusculares daquela quente tarde de 2027.
A grande divergência (2)
Há 6 horas
Nenhum comentário:
Postar um comentário