quinta-feira, 6 de outubro de 2011

SOBRE A COMISSÃO DE VERDADE



Ora, se é comissão da “verdade”, não se pode aceitar que ela esteja apenas de um lado, porque, senão, não haveria querelas. Ocorre que existem arquivos históricos confiáveis de que houve luta armada, guerrilha, sequestros e assassinatos perpetrados pela esquerda radical, que gostaria de ver instaurado no país um regime parecido com o de Cuba, que, então, estava na moda...

Vários próceres do atual governo, inclusive, foram treinados na ilha dos Castro, retornando ao país com objetivos de retomada do poder pela força, compondo células e aparelhos, na tentativa de subverter a ditadura de direita.

Para os de esquerda, os militares subvertiam a ordem que pretendiam instaurar, isto é, uma república proletário-sindical, à semelhança de Cuba e da extinta União Soviética; para os militantes da direita, os que foram para a clandestinidade, os banidos e os cassados representavam a massa de manobra que pretendia desfigurar a Pátria, mediante um regime comunista e ateu...

No meio dessa sopa conflitante e ideológica nós, o povo, assistíamos a tudo, tocando o nosso dia a dia, opinando e silenciando de acordo com a conveniência cidadã de gente mal-informada ou sempre cientificada pela metade do que estava acontecendo.

Agora, após tantos anos, os dois lados preparam-se para nova guerra, açulando os mais portentosos argumentos de parte a parte. Os cadáveres da esquerda e da direita ressurgirão, revigorados, trazendo raiva e estupor para uma sociedade de massas, entorpecida pela mídia e amedrontada no seu dia-a-dia sob violência difusa e insegurança.

Pobre povo brasileiro, que não pode andar para a frente nem merecer o futuro! Abrirão a tampa do caldeirão e as bruxas surgirão, de parte a parte, com seus sortilégios noturnos. Poucos ganharão as reparações de guerra, um conflito em que a maioria absoluta da nação não lutou ou viveu qualquer envolvimento direto ou indireto.

A pantomima desenvolver-se-á em meio a eleições, sendo bucha de canhão para aproveitadores, assim como se diz dos mensalões, também objeto de conflito e que sabemos não darão em nada em nossa Justiça capenga, lerda e elitista.

Os caquinhos da verdade pertencem a dois grupos, em luta eterna, e que não mais representam os interesses do povo brasileiro. Os queixosos de injustiças – nós vamos ver – serão calados por maçarocas de dinheiro sangradas dos contribuintes e voltarão para suas casas, aburguesados, para criar os filhos, os netos e seguir a vida.

Na verdade, a melhor coisa de que me lembro do período militar foi de uma música do Chico Buarque, em que ele implorava intensamente: “chamem o ladrão, chamem o ladrão!”. Parece que deu certo a veemência do ilustre compositor: os ladrões foram chamados e, hoje, no governo atual, estão todos aqui...

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*Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta e não usufrui hoje de boquinhas nem do Estado aparelhado, assim como ontem não foi agraciado com cargos nem comendas...

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