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Trinta anos de petização das escolas — públicas e privadas, em todos os níveis — criaram esses idiotas cheios de opinião, incapazes de refletir dois minutos sobre um argumento. No caso da retirada dos crucifixos, confundem-se abertamente herança e formação cultural com proselitismo religioso; entende-se o estado laico como sinônimo de um estado que deva promover o ateísmo. Os mais radicais não têm dúvida: Wadih Damous, presidente da OAB-RJ, está certo, e duas obras de arte devem, sim, ser violadas no Supremo para arrancar de lá aquele crucifixo. Não são capazes de dizer por que, então, não devemos revogar outras heranças do cristianismo, aa começar do feriado do Natal.
Na espetacular entrevista concedida ao jornal português “Público”, Josph Weiler, o advogado judeu que defendeu na Corte Européia o direito de as escolas italianas exibirem crucifixos, fez uma brilhante síntese do pensamento tolerante:
“Não podemos permitir que a liberdade de [ter ou não] religião ponha em causa a liberdade religiosa. Temos que descobrir a via média. E essa é dizer “não” se alguém quiser forçar outro a beijar ou a genuflectir perante a cruz. Mas, se houver uma cruz na parede, direi aos meus filhos que vivemos num país cristão. Somos acolhidos, não somos discriminados. A Dinamarca tem uma cruz na bandeira, a Inglaterra e a Grécia igual. Vamos pedir que, por causa da liberdade religiosa, tirem a cruz das bandeiras? Absurdo!…”
Minha religião?
Alguns tontos sustentam que só me atenho a essa questão porque sou católico! Voltaram a me acusar de ser membro do Opus Dei! Se fosse, não haveria nada de ilegal nisso. Feio é paralisar avenidas, ameaçar pessoas, propor a destruição do patrimônio… Mas não sou” Olhem aqui: talvez eu tenha lá minhas contradições — nada do que é humano é estranho a mim… —, mas é difícil me pegar em certas coisas porque penso segundo princípios, o que me livra de ficar me perguntando a toda hora: “O que é mesmo que eu acho disso?” No dia 23 de junho de 2009, escrevi um texto criticando a proibição do véu islâmico nas escolas francesas. Não só do véu. É proibido também exibir um crucifixo no pescoço. O modo francês — e não é por acaso que a Marselhesa é aquele banho de sangue em forma hino! — de garantir a liberdade religiosa é proibindo a expressão de qualquer religiosidade. Acho que isso não só invade direitos individuais como comete o crime cultural de igualar véu e crucifixo — para a França, são coisas muito distintas, não?
Mas estes são os tempos. Os valores universais estão em baixa. Em seu lugar, entram as vozes das tais minorias organizadas, dos grupos de pressão, que impõem a sua pauta, os seus valores, porque dispõem dos canais de expressão. E ai daquele que reivindicar aquela coisa besta, como o direito de ir e vir, ou que lembrar que a história não pode ser submetida a uma espécie de revisão permanente, como se só pudéssemos viver num presente eterno. É claro que boçais não são todos os ciclistas, mas os que pretendem fazer terrorismo sobre duas rodas. É evidente que há ateus e agnósticos que compreendem a democracia. Boçais são os que não compreendem
Ainda estou lhes devendo o texto em que prometi voltar àquela questão do infanticídio. Foi espantosa a quantidade de pessoas que condescenderam com a idéia porque, disseram, há mesmo muita gente no planeta, e a Terra está correndo riscos. Acho que entendi a utopia deles: um planeta lindo, vagando nas esferas, sem a presença pestilenta do homem, com a natureza intacta. Não haveria nem mesmo um Stanley Kubrick para filmá-lo…
Por Reinaldo Azevedo
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