terça-feira, 24 de abril de 2012
ARNALDO JABOR - O Estado de S.Paulo
Roberto Jefferson denunciou os bolchevistas no poder, os corruptos que roubavam por "bons motivos", pelo "bem do povo", na base dos "fins que justificam os meios". E, assim, defenestrou a gangue de netinhos de Lenin
que cercavam o Lula que, com sua imensa sorte, se livrou dos mandachuvas que
o dominavam. Cachoeira é uma alegoria viva do patrimonialismo, a desgraça
secular que devasta a história de nosso País. Sarney também seria 'didático' mas nada gruda nele, em seu terno de 'teflon'; no entanto, quem estudasse sua vida entenderia o retrato perfeito do atraso brasileiro dos últimos 50 anos.
Cachoeira é a verdade brasileira explícita, é o retrato do adultério permanente entre a coisa pública e privada, aperfeiçoado nos últimos dez anos, graças à maior invenção de Lula: a 'ingovernabilidade'. Cachoeira é um acidente que rompeu a lisa aparência da 'normalidade' oficial
do País. Sempre soubemos que os negócios entre governo e iniciativa privada vêm envenenados pelas eternas malandragens: invenção de despesas inúteis (como as lanchas do MinistériodaPesca),superfaturamento de compras,divisão de propinas, enfrentamento descarado de flagrantes, porque perder a
dignidade vale a pena, se a grana for boa, cabeça erguida negando tudo, uns
meses de humilhações ignoradas pelo cinismo e pela confiança de que a
Justiça cega, surda e muda vai salvá-los. De resto, com a grana na 'cumbuca'
as feridas cicatrizam logo.
O governo do PT desmoralizou o escândalo e Cachoeira é o monumento que Lula
esculpiu. Lula inventou a ingovernabilidade em seu proveito pessoal. Não foi
nem por estratégia política por um fim 'maior' - foi só para ele.
Achávamos a corrupção uma exceção, um pecado, mas hoje vemos que o PT
transformou a corrupção em uma forma de governo, em um instrumento de
trabalho. A corrupção pública e a privada é muito mais grave e lesiva que o
tráfico de drogas. Lula teve a esperteza de usar nossa anomalia secular em projeto de governo.
Essa foi a realização mais profunda do governo Lula: o escancaramento
didático do patrimonialismo burguês e o desenho de um novo e 'peronista'
patrimonialismo de Estado. Quando o paladino da moralidade Demóstenes ficou nu, foi uma mão na roda
para dezenas de ladrões que moram no Congresso: "Se ele também rouba, vamos
usá-lo como um Omo, um sabão em pó para nos lavar, vamos nos esconder atrás
dele, vamos expor nosso escândalo por seu comportamento e, assim, seremos
esquecidos!"
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