sábado, 10 de março de 2012

O pacto de Cuba com traficantes de cocaína





Para não quebrar, sob a perestroica de Gorbachev, a ilha de Fidel Castro negociou com Pablo Escobar. O comércio só ruiu quando os EUA descobriram que Cuba era um entreposto da cocaína do Cartel de Medellín
A abertura soviética chegou a empolgar alguns líderes cubanos, mas não Fidel e Rául, que, hábeis politicamente, entenderam que qualquer reforma mais forte na ilha significava retirá-los do poder e que a perestroika iria reduzir investimentos da terra de Púchkin na Disney­lândia das esquerdas. O líder cubano Carlos Rafael Rodríguez fez “comentários favoráveis sobre a perestroika”, em Bu­careste, o que não agradou a dupla. Em 1989, Gorbachev visitou Cuba e esclareceu: “À medida que a vida segue novas exigências são feitas à qualidade da nossa interação. Isso se aplica particularmente aos contatos econômicos — estes devem ser mais dinâmicos e efetivos, e produzir retornos mais significativos para ambos os países”. Gott complementa: “Em particular, Gorbachev deixou claro que a velha relação econômica, com os preços subsidiados que há muito ajudavam a manter a relativa prosperidade de Cuba, teria de ser encerrada. E mais estava para vir. No futuro, os russos iam querer receber o pagamento pelos seus bens em dólares norte-americanos”. Em “A Ilha do Doutor Castro — A Transição Confiscada”, Corinne Cumerlato e Denis Rousseau relatam: “O Clube de Paris conta entre seus membros a ex-União Soviética, que calcula a dívida cubana em mais de 22 bilhões de rublos e exige um tratamento a parte. A esse rombo somam-se cerca de 11 bilhões de dólares emprestados por Estados ou bancos internacionais, o que representa aproximadamente 80% de seu PIB. Segundo essas estimativas, Cuba detém um dos mais altos índices de endividamento na América Latina”.

Com Cuba em crise, por causa do afastamento paulatino da União Soviética e a perestroika se espraiando no Leste Europeu, Fidel decidiu que todo simulacro de dissidência, ou de apoio às mudanças patrocinadas por Gorbachev, deveria ser contida a ferro e fogo. O general Arnaldo Ochoa Sán­chez, “figura lendária e heroica, para os soldados cubanos, atrás apenas de Fidel”, segundo Gott, era a principal preocupação. Ochoa comandou os exércitos cubanos em Angola, Moçambique, Etiópia e, antes, na Venezuela. (Os críticos de Fidel em geral omitem que a participação dos militares cubanos na luta conta a África do Sul, em território angolano, foi decisiva para torpedear e enfraquecer o regime do Apartheid.)

Popular e herói histórico, Ochoa, se tivesse apoio externo, sobretudo soviético, poderia se tornar o Fidel dos tempos da perestroika. Por isso, provavelmente, Fidel decidiu liquidá-lo, e contra a vontade de Raúl. Há outro indício: Fidel sempre considerou o irmão fraco em termos políticos e, no caso de sua morte, poderia ser controlado por militares carismáticos, como Ochoa. Eliminada a principal figura militar, os demais militares ficariam quietos e, de fato, ficaram. Por isso, ao voltar da África, a chamado de Fidel, para “receber” uma promoção, Ochoa foi preso.Cumerlato e Rousseau são incisivos: “Uma dupla suspeita continua a pesar sobre Fidel Castro: a de ter se livrado de um oficial prestigiado, que lhe fazia sombra, e a de ter ao mesmo tem­po feito desaparecer perigosas testemunhas que podiam implicá-lo num caso de tráfico de drogas internacional. Em 13 de julho de 1989, às 4 horas da manhã, um pelotão de execução fuzilava quatro oficiais superiores, detidos apenas um mês antes e acusados de terem montado uma rede internacional de tráfico de cocaína. Os quatro foram condenados ao final daquele que foi, segundo muitos analistas, o último processo stalinista do mundo comunista ocidental, em plena perestroika soviética e pouco meses antes da queda do muro de Berlim.
No livro “El Magnífico — 20 Ans au Service Secret de Castro”, Juan Vivés nota que um grande número de pessoas participou da operação com o colombiano Pablo Escobar — o que indica claramente uma participação do Estado na proteção aos traficantes de cocaína. “Todo mundo sabe que o tráfico era impossível de ocorrer sem que Fidel e Raúl não estivessem a par”, acrescenta Juan Vivés. O ex-espião cubano tem razão: num Estado policial, como o cubano, seus dirigentes sabem de praticamente tudo que ocorre no país, sobretudo num pequeno país como Cuba. Se Fidel não sabia que traficantes usavam Cuba como base para transportar cocaína para a Flórida, nos Estados Unidos, pode-se tachar o sistema de espionagem e o dirigente político de incompetentes
Gott diz que a cocaína era transportada para a Flórida pelo aeroporto de Varadero, em Cuba. O coronel Tony de la Guardia (o mesmo que treinou a guarda que protegia o chileno Salvador Al­lende, em 1973. Suspeita-se que tenha matado Allende, a pedido de Fidel, que considerava o líder socialista “fraco”. Não há, porém, provas contundentes) seria o chefe direto do esquema, mas comandado por Ochoa — quando se sabe que o operador de fato era Rául, o chefão militar.

Como a conexão Cuba-Pablo Escobar se tornou pública, comprometendo a imagem do socialismo cubano, era preciso achar culpados. O mais pragmático era matar dois coelhos com o mesmo tiro: primeiro, arrumava-se um culpado para o tráfico internacional, e segundo, punindo-o, eliminava-se uma possível ameaça política, Ochoa, de 48 anos.

O julgamento de Ochoa e aliados foi uma farsa, no estilo stalinista. Ochoa parecia dopado e confessou crimes — na verdade, uma política de Estado, incentivada por Fidel e Raúl — que não cometera. Mas não estava apenas dopado. Pos­sivelmente para garantir a sobrevivência de familiares e amigos, o general aceitou a “culpa”. Cu­merlato e Rous­seau registram: “O general Ochoa reivindicou diante do tribunal a responsabilidade de contatos com Pablo Escobar, na época chefe dos traficantes de droga colombianos do cartel de Medellín”.

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