Por Carlos Chagas
Muitas décadas atrás faziam extraordinário sucesso as tiras em quadrinhos estreladas pelo “Brucutú”, simpático troglodita que através da fantástica máquina do tempo do professor Papanatas passeava pelos principais acontecimentos da História. Ora nosso herói estava em Roma, aconselhando Julio César, ora na Idade Média, participando da invasão da Inglaterra por Guilherme o Conquistador, sem esquecer suas aventuras com os piratas do Caribe ou nas guerras de Frederico o Grande. Também esteve na Revolução Francesa e na Independência dos Estados Unidos. Em todos os episódios, era o Brucutú que do alto de sua ingenuidade orientava e definia os rumos da Humanidade.
Por que lembramos daqueles tempos felizes onde a imaginação das crianças permitia a absorção de capítulos inteiros da História?
Porque está faltando um dr. Papanatas na atual realidade brasileira, capaz de levar-nos, se possível junto com o Brucutú, até acontecimentos fundamentais do passado brasileiro que precisam ser elucidados. O maior deles refere-se à exata participação do Lula no processo político-sindical dos anos do regime militar. Seria verdadeira a versão de ter o hoje primeiro-companheiro sido manipulado pelo general Golbery do Couto e Silva para desenvolver o sindicalismo de resultados, renegando a revolução popular e até congelando as reformas sociais mais profundas? Serviu, o Lula, de instrumento para neutralizar Leonel Brizola e, ao mesmo tempo, isolar os comunistas e outros radicais? Prestou-se ao papel de inocente útil, algoz do Partido Trabalhista em favor do Partido dos Trabalhadores? Teve consciência de estar sendo usado ou usou aquela oportunidade para afirmar-se no cenário político? Passou o bruxo-general para trás ou foi passado por ele? Também valeu-se da Igreja, ou de seus setores mais progressistas naquele início de caminhada, pouco se importando depois com o desembarque de bispos frustrados?
Continua obscura aquela gestação de tudo o que se verificou depois, com a ida do Lula para o poder. A chave para se entender os dias de hoje repousa no fundo do poço de onde ele emergiu, claro que por seus próprios méritos e por sua capacidade de conduzir o novo processo em marcha.
Como o dr. Papanatas deve ter-se aposentado e o Brucutú perdeu-se nos meandros da História, a solução seria o Lula revelar o que seus inúmeros biógrafos não descobriram. Terá sido uma criação de Golbery ou Golbery, contrariando sua natureza, deixou-se enganar por um torneiro-mecânico?
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