segunda-feira, 8 de abril de 2013
Golbery e o PT -ESCRITO POR RODRIGO SIAS
ESCRITO POR RODRIGO SIAS
Golbery e os militares anticomunistas de outrora (e de hoje) perderam a batalha político-ideológica por uma razão simples: lutaram a guerra presente achando que esta seria combatida como foi a anterior.
Conhecido como o principal ideólogo do Governo Militar brasileiro iniciado em 1964 e Ministro Chefe da Casa Civil dos dois últimos generais-presidentes, Golbery do Couto e Silva foi também o grande arquiteto da abertura do Regime que ajudou a criar.
A distensão, lenta, gradual e segura , iniciada sob sua batuta já no governo Geisel, prepararia o retorno da democracia ao país e a volta dos partidos políticos.
Segundo os cálculos de Golbery, uma vez que a esquerda armada já havia sido derrotada no campo de batalha, uma nova esquerda poderia assumir seu lugar.
Para o bruxo , o problema da esquerda combatida pelo Regime era o fato de ser, justamente por seu caráter revolucionário, um movimento anti-sistêmico.
Sua idéia era patrocinar a criação de uma esquerda ligada aos sindicatos e às reinvidicações trabalhistas usuais uma esquerda "administrável" - que não fosse revolucionária e respeitasse as regras.
O ideólogo acreditava que o sindicalismo do final dos anos 1970 e início dos anos 1980 estaria divorciado da concepção marxista de lutas de classes e priorizaria disputas e acordos salariais.
Golbery alimentou os opositores do regime entre eles, o próprio ex-presidente Lula, na época, líder das greves do ABC paulista - cedendo-lhes espaço, acreditando que estava preparando a oposição democrática ao legado de 1964.
Por isso, apesar da propaganda atual, que pinta a esquerda como grupo perseguido e marginalizado durante o Regime Militar, já nos anos 1970, os esquerdistas e suas idéias passaram a dominar o ambiente universitário e acadêmico, os sindicatos, as produções culturais e a imprensa, com o beneplácio do próprio governo militar (ver, por exemplo, os artigos de Olavo de Carvalho sobre a imprensa nanica :
http://www.midiasemmascara.org/artigos/desinformacao/12600-o-mito-da-imprensa-nanica-1.htmle a continuação aqui: http://www.midiasemmascara.org/artigos/desinformacao/12606-o-mito-da-imprensa-nanica-2.html).
O plano parecia perfeito. No entanto, havia um grave erro de cálculo.
Quando Golbery pôs em prática seu plano de abertura política, a esquerda brasileira já tinha há algum tempo entrado em profundo processo de reformulação metodológica, cujo símbolo maior era a adoção da doutrina do italiano Antônio Gramsci.
A doutrina gramsciana supunha que a sociedade capitalista contava com espaços que comportariam a militância revolucionária de esquerda, sem que esta tivesse de bater de frente com o sistema capitalista.
Segundo Gramsci, o Partido Príncipe deveria paulatinamente criar as condições para sua ascensão final ao poder, crescendo dentro do sistema capitalista e democrático, até que, poderoso o suficiente, poderia dominá-lo completamente e transformá-lo em instrumento da revolução.
Como condição prévia para a tomada de poder, portanto, seria preciso ocupar espaços, conquistar corações e mentes e preparar o ambiente cultural para a revolução comunista.
Com a adoção do gramscismo, a esquerda revolucionária passou a ser sistêmica, frustrando as maquinações de Golbery.
Muitos militares, ainda hoje, não se deram conta do caráter sistêmico assumido pelos subversivos de outrora.
Vejam, por exemplo, a entrevista na Globo News do general Leônidas Pires Gonçalves[1] (aqui:http://www.youtube.com/watch?v=ZhPTwO6CXps).
Tudo o que o general fala é verdade: os militares impediram a cubanização do Brasil, o movimento de 1964 foi apoiado pela sociedade civil, a tortura foi extremamente aumentada pela militância (até por questões financeiras), teria havido um banho de sangue entre as próprias facções de esquerda que são autofágicas por natureza, caso tivessem tomado o poder etc.
No entanto, ao falar de Lula, o general manteve o antigo diagnóstico de Golbery, insistindo que o PT não representava perigo porque era um partido do sistema.
Por não entender o novo caráter sistêmico da revolução comunista, muitos militares votaram no PT em 2002, não entendem o porquê da Comissão da Verdade e estranham o apoio diplomático dado aos bolivarianos da América do Sul.
Golbery e os militares anticomunistas de outrora (e de hoje) perderam a batalha político-ideológica por uma razão simples: lutaram a guerra presente achando que esta seria combatida como foi a anterior. Ou seja, bastaria derrotar a guerrilha para derrotar os revolucionários.
Foi este erro crasso que possibilitou a ascensão do PT.
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