terça-feira, 25 de junho de 2013
ACABOU A FARSA. VIVA A PRIMAVERA
(Diego Casagrande - Jornal Metro Porto Alegre - 25.06.2013)
Em 2003, quando os EUA invadiam Bagdá sob os olhares do mundo, Mohammed Al-Sahhaf, o ministro da Informação de Saddam Hussein bradava: É mentira. Não há invasão. Os americanos não estão aqui. Botamos eles para correr. Aqui não entram. Dá até vontade de rir lembrando daquele general de filme pastelão sem a menor vergonha de manipular o que todo mundo estava vendo. A guerra era transmitida ao vivo pela tevê, o que desmentia em tempo real a versão oficial. As imagens das bombas, dos prédios do governo em chamas, dos tanques invadindo a cidade milenar eram contundentes. Até que a realidade acabou com a farsa de Al-Sahhaf . Governos são assim: vivem de mentiras e propaganda.
Tudo na vida tem início, meio e fim. Dos impérios mais longevos às estrelas que brilham nos céus há milhões de anos. É o ciclo natural da vida no universo. É também o ciclo da política, da propaganda e do marketing. E é o que estamos vendo nas ruas nestas últimas semanas. A conscientização de que não somos a Disneylândia ou que nunca fomos levou milhões ao protesto.
E os protestos de massa, se começaram com uma crítica aos preços das passagens, ganharam contornos mais amplos, de indignação com muitas coisas que acontecem em nosso país. Entenderam ou querem que desenhe senhores governantes?
A conclusão mais óbvia é que acabou a farsa ufanista e marqueteira, construída à base de muita propaganda e lavagem cerebral por Lula, Dilma, o PT e os partidos comprados com mensalões de toda ordem. Não é possível que um país de 200 milhões de pessoas, e que tem uma das maiores arrecadações de impostos do planeta, não ofereça nada além de serviços públicos precários. O transporte é ruim. A infraestrutura é ruim. A saúde é péssima, assim como a educação e a segurança. É ultrajante ver a classe política mancomunada em acordos de gabinete virando as costas para esta realidade.
Diante dos milhões que estão indo às ruas em nosso país, como não lembrar da mãe de todas as primaveras, a de Praga? A tentativa de levar mais liberdade à Tchecoslováquia, em 1968, contou com a adesão de intelectuais, estudantes e trabalhadores em geral. Eles foram às ruas exigir democracia, direitos civis e políticos, liberdade. O sonho acabou esmagado pelos tanques do Pacto de Varsóvia, liderados pela tirania comunista da União Soviética. Mas sonhos de liberdade, estes sim, nunca morrem. As Primaveras de Praga estão vivas, cada qual a sua maneira, na mente de milhões de pessoas no mundo todo. De alguma forma, é o que acontece no Brasil.
Na última sexta-feira Dilma Rousseff foi à televisão. Falou durante dez minutos em um discurso vazio, inconsistente, com propostas de quem está em campanha eleitoral. Ficou pior que o soneto. Ontem, ressuscitou a palavra pacto, tão usada no período de Sarney no Planalto, de triste memória dos brasileiros, e elencou medidas que considera importantes para acalmar o povo. A primeira delas é um Pacto pela Responsabilidade Fiscal. Como assim? Quem propõe é a mesma governante que construiu elefantes brancos superfaturados para se jogar futebol? Que alugou 53 quartos e 17 carros para a comitiva ver o Papa? Cujo governo tem 39 ministérios? Contem-me depois o restante do pacto...
Os governantes estão tontos, atirando a esmo e desorientados. E nós, no andar de baixo, só não estamos definitivamente condenados porque existem as primaveras.
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