domingo, 16 de junho de 2013

Livro "O Zero e o Infinito" compõe retrato agudo do totalitarismo





RIVADAVIA ROSA




Arthur Koestler – nesse livro (O Zero e o Infinito) relata/denuncia também os processos de Moscou.

Nos chamados grandes processos de Moscou promovidos no período de 1936 a 1939 por Stálin - Iossif Vissirianovitch Djugatchvili Stalin (Joseph Stálin - 1879-1953) – desenvolveu-se um método inédito de confissão (revolucionária) – ‘nunca vista no mundo’ em que os próprios acusados demonstravam ao mesmo tempo sua culpabilidade e a ‘sabedoria’ do poder que os acusava. Juiz e carrasco servem assim a mesma causa – o primeiro como carrasco, o segundo como vítima. Tudo em nome da 'causa' ou como disse quem sofreu o experimento:

A ideologia! Ela fornece a desejada justificação para a maldade, para a firmeza necessária e constante do malfeitor. Ela constitui a teoria social que o ajuda, perante si mesmo e perante os outros, a desculpar os seus atos e não escutar censuras ou maldições, mas sim elogios e testemunhos de respeito. Era assim que os inquisidores se apoiavam no cristianismo, os conquistadores no enfraquecimento da pátria, os colonizadores na civilização, os nazis na raça, os jacobinos (de ontem e de hoje) na igualdade, na fraternidade e na felicidade das gerações futuras. - Alexandre Soljenítsen, in ARQUIPÉLAGO GULAG (1918-1956). São Paulo: Círculo do Livro S.A. p. 176.

Ao final do primeiro processo (19 a 23 de agosto de 1936) – os 16 acusados (entre os quais G. Zinoviev e L. Kamenev) são condenados à morte e executados 24 horas depois. No segundo processo (23 a 30 de janeiro de 1937) – 15 dos 17 acusados (entre os quais G. Piatakow e K. Radek) são igualmente condenados e executados imediatamente. No terceiro processo (2 a 13 de março de 1938), outros ‘velhos bolcheviques’ (Bukharin é o mais célebre deles) são liquidados, assim como Iagoda, o ex-diretor da polícia política que organizou os processos anteriores. Esses três processos apresentam as mesmas características: as acusações fantasistas baseiam-se apenas nas confissões arrancadas dos acusados (in François Furet – O passado de uma ilusão. São Paulo, Siciliano, 1995- p. 287).

OBSERVE: com a condenação à pena de morte – sem ‘apelação’ – eram logo executados. Assim não podiam reclamar nenhuma INDENIZAÇÃO.
Soljenítsen - arremata: “Não teria sido possível realizar essa operação sanitária, e muito menos em condições de guerra, se se tivessem utilizado formas processuais e jurídicas caducas. adotou-se uma forma completamente nova: a repressão sem julgamento; e este ingrato trabalho foi assumido abnegadamente pela Vetcheká (Comissão Extraordinária de Toda a União), a Sentinela da Revolução, o único órgão punitivo da história da humanidade que reuniu nas mesmas mãos a investigação, a detenção, a instrução do processo, a acusação pública, o julgamento e a execução da sentença”. ARQUIPÉLAGO GULAG (1918-1956) - Alexandre Soljenítsen. São Paulo: Círculo do Livro S.A. p. 39).

E, ainda há quem defenda descaradamente tal “sistema” em pleno século XXI.



.......................

Nenhum comentário:

Postar um comentário