RIVADAVIA ROSA
Arthur Koestler nesse livro (O Zero e o Infinito) relata/denuncia também os processos de Moscou.
Nos chamados grandes processos de Moscou promovidos no período de 1936 a 1939 por Stálin - Iossif Vissirianovitch Djugatchvili Stalin (Joseph Stálin - 1879-1953) desenvolveu-se um método inédito de confissão (revolucionária) nunca vista no mundo em que os próprios acusados demonstravam ao mesmo tempo sua culpabilidade e a sabedoria do poder que os acusava. Juiz e carrasco servem assim a mesma causa o primeiro como carrasco, o segundo como vítima. Tudo em nome da 'causa' ou como disse quem sofreu o experimento:
A ideologia! Ela fornece a desejada justificação para a maldade, para a firmeza necessária e constante do malfeitor. Ela constitui a teoria social que o ajuda, perante si mesmo e perante os outros, a desculpar os seus atos e não escutar censuras ou maldições, mas sim elogios e testemunhos de respeito. Era assim que os inquisidores se apoiavam no cristianismo, os conquistadores no enfraquecimento da pátria, os colonizadores na civilização, os nazis na raça, os jacobinos (de ontem e de hoje) na igualdade, na fraternidade e na felicidade das gerações futuras. - Alexandre Soljenítsen, in ARQUIPÉLAGO GULAG (1918-1956). São Paulo: Círculo do Livro S.A. p. 176.
Ao final do primeiro processo (19 a 23 de agosto de 1936) os 16 acusados (entre os quais G. Zinoviev e L. Kamenev) são condenados à morte e executados 24 horas depois. No segundo processo (23 a 30 de janeiro de 1937) 15 dos 17 acusados (entre os quais G. Piatakow e K. Radek) são igualmente condenados e executados imediatamente. No terceiro processo (2 a 13 de março de 1938), outros velhos bolcheviques (Bukharin é o mais célebre deles) são liquidados, assim como Iagoda, o ex-diretor da polícia política que organizou os processos anteriores. Esses três processos apresentam as mesmas características: as acusações fantasistas baseiam-se apenas nas confissões arrancadas dos acusados (in François Furet O passado de uma ilusão. São Paulo, Siciliano, 1995- p. 287).
OBSERVE: com a condenação à pena de morte sem apelação eram logo executados. Assim não podiam reclamar nenhuma INDENIZAÇÃO.
Soljenítsen - arremata: Não teria sido possível realizar essa operação sanitária, e muito menos em condições de guerra, se se tivessem utilizado formas processuais e jurídicas caducas. adotou-se uma forma completamente nova: a repressão sem julgamento; e este ingrato trabalho foi assumido abnegadamente pela Vetcheká (Comissão Extraordinária de Toda a União), a Sentinela da Revolução, o único órgão punitivo da história da humanidade que reuniu nas mesmas mãos a investigação, a detenção, a instrução do processo, a acusação pública, o julgamento e a execução da sentença. ARQUIPÉLAGO GULAG (1918-1956) - Alexandre Soljenítsen. São Paulo: Círculo do Livro S.A. p. 39).
E, ainda há quem defenda descaradamente tal sistema em pleno século XXI.
.......................
Nenhum comentário:
Postar um comentário