:: PEDRO ROIG* – TRADUÇÃO DE FRANCISCO VIANNA
Quando o velho apodrece sem morrer e o novo não chega a nascer, o pior se torna realidade e, em Cuba, que foi visitada por Bento XVI, tudo ainda está vivo, mas em adiantado estado de putrefação, a começar pelos seus ditadores e seu regime.
Nas vésperas da Semana Santa, o Papa teve a oportunidade de receber as Damas de Branco, que por mais de 10 anos, têm sido as mais fiéis peregrinas da Virgem da Caridade, que escolheram aquelas montanhas de cobre para levantar o santuário à sua devoção.
As Damas de Branco pediram ao Santo Padre um minuto para lhe entregar seus apelos de respeito aos direitos humanos na ilha. Essa reunião com Bento XVI serviu para dizer aos cubanos que o novo, sim, pode nascer quando se enaltece com dignidade o sacrifício de mulheres que têm feito das igrejas de Cuba, santuários da liberdade. Que melhor momento do que a véspera da Semana Santa? Sagrado memorial do supremo sacrifício de Cristo crucificado. Liturgia essencial da Eucaristia. Primavera que chora junto à virgem na sexta feira santa e floresce imaculada no domingo da ressurreição. A reunião do Papa com as Damas de Branco de Cuba foi um momento histórico, o minuto mais formoso e transcendental de sua viagem a Cuba. E dar-lhe as costas foi um grave erro moral e uma covardia!
A história nos diz que, em Cuba, o catolicismo tem tido menor importância do que no resto da América hispana. Nessa bela ilha, de alegres encantos e profundas tristezas, o cristianismo e as crenças animistas africanas geraram um complexo sincretismo religioso que alcançou enorme relevo popular, e que ainda se mantém poderosamente vigente.
A igreja conhece bem o sacrifício da fé porque nasceu perseguida e sofreu vexames, torturas e martírio. Isso é o que a cada domingo enfrentam as Damas de Branco quando saem das igrejas com flores e são agredidas brutalmente. Mas, apesar do grande erro do Vaticano, elas seguem firmes em sua vocação de fé na Virgem milagrosa e na liberdade de seu povo. De todo o que se disse, para além das abstrações evangélicas, ainda ressoam as palavras de Marino Murillo, ministro da economia, falando em nome da gerontocracia militar do politburo cubano, que não deixou dúvida, nem espaço à especulação, quando assinalou em frente à imprensa mundial e ao Papa que, em Cuba, não haverá nenhum tipo de abertura política.
Tudo indica que a viagem do Papa à ilha e o acordo de colaboração entre a tirania e a Igreja tem servido para aumentar o nível de repressão contra os que reclamam em Cuba o respeito a suas liberdades e direitos individuais da pessoa humana, tão bem registrados e decantados pela ONU. O enorme emprego de segurança do estado se fez sentir dias antes da chegada de Bento XVI e recrudesce com violentas agressões e centenas de prisões, mostrando que a segurança da pessoa não interessa, mas apenas a do estado. Esta feroz operação do Ministério do Interior, que faz funcionar a polícia política castrista, é o saldo evidente e terrível da visita do Papa a Cuba, e que ainda achou tempo para uma conversa, de certo totalmente improdutiva, com o Coma Andante Fidel Castro.
É óbvio que muitos da comunidade cubana vivendo no exílio em Miami, não entendem a linguagem intolerante, excludente e suicida dos que, em Cuba, controlam o poder e, como donos absolutos das principais peças de tal quebra-cabeça, se negam a facilitar uma abertura política pacífica. Esta incompreensão do que diz a tirania cai em cheio na tradição de irrealidade que vige em nosso debate político.
No fim, a Virgem do Cobre deu à sua igreja a oportunidade de renascer nesse minuto de comunhão da fé com as Damas de Branco. Mas deixaram-na passar. Agora poderão celebrar oficialmente as Sextas Feiras Santas em Cuba, que se apodrecem em vida e continuarem sendo a igreja covarde, indigna e marginal do cardeal Ortega.
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