sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O QUE APRENDER COM ISRAEL?





José Pio Martins*




Há algo que me intriga há algum tempo: o que leva um país com apenas 7,9
milhões de habitantes (o Paraná tem 10,4 milhões), um território minúsculo
(menor que o estado de Sergipe), terras ruins, sem recursos naturais, com
apenas 64 anos de existência, e em constantes conflitos militares... a ser
um dos maiores centros de inovação do mundo;
ter 63 empresas de tecnologia listadas na bolsa Nasdaq (mais que Europa, Japão, China e Índia somados), ter registrado 7.652 patentes no exterior entre 2002 e 2005, e ter ganho 31% dos prêmios Nobel de Medicina e 27% dos Nobel de Física?


Em resumo: o que explica o extraordinário desenvolvimento econômico e
tecnológico de Israel?
Pela lista de carências e problemas citados no
parágrafo anterior, Israel tinha tudo para ser apenas mais um país atrasado
e miserável.
Mas, além de não ser, o país transformou-se em um caso único de inovação, tecnologia e desenvolvimento. Muitas das maravilhas que usamos hoje vêm de lá. O pen-drive, a memória flash de computador e muitos
medicamentos que salvam vidas estão na lista de patentes de Israel.


Qualquer explicação rápida é leviana. Muitos dirão que é o dinheiro dos
norte-americanos e dos judeus espalhados pelo mundo que faz o sucesso de
Israel. Não é. Primeiro, porque nenhuma montanha de dinheiro transforma uma
nação de atrasados e ignorantes em gênios da inovação e ganhadores de
prêmios Nobel.
Segundo, grande parte do dinheiro recebido por Israel foi
gasta em defesa e conflitos militares. Terceiro, o apadrinhamento militar de
Israel nos primeiros anos de sua fundação não foi dado pelos Estados Unidos,
mas pela França, cujo apoio cessou somente em 1967, após a Guerra dos Seis Dias.


Nos artigos e livros que pesquisei, não há explicação simplista para o
sucesso de Israel. Pelo espaço limitado deste artigo, destaco apenas quatro pontos:



Em primeiro lugar, a história e a cultura. A religião judaica dá ênfase à
leitura e à aprendizagem, mais que aos ritos. A perseguição aos judeus e a
proibição, durante a Idade Média, de possuírem terras os levou a estudar e
se tornarem médicos, banqueiros ou outras profissões que pudessem ser
exercidas em qualquer lugar.

Depois vem o apreço pela tecnologia e pela inovação. Israel gasta 4,5% de
seu produto bruto em pesquisa e desenvolvimento, contra 2,61% dos Estados
Unidos e 1,2% do Brasil. Na ausência de recursos naturais e premido pela
necessidade, Israel entrou de cabeça numa cultura de pesquisar, descobrir e inovar.

Em terceiro lugar, a estrutura educacional. A crença de que a única saída
para o desenvolvimento - mais que os recursos naturais - é a educação de
qualidade está na raiz da cultura de Israel.
Do ensino básico até a
universidade, Israel desfruta de uma educação de nível e acessível a todos.
Se você pensa encontrar um judeu analfabeto, desista. É uma questão
cultural: para eles, povo e governo, a educação é o bem maior.

E, por fim, o respeito pelo empreendedor e pelo fracasso. Em Israel,
valoriza-se muito aquele que se dispõe a inventar, inovar ou empreender.

Quem tenta e fracassa é respeitado e apoiado, pois eles acreditam que a
falência é um aprendizado e a chance de acertar da próxima vez aumenta.
Isso
leva a uma ausência de medo do fracasso e é um elemento-chave da cultura da
inovação. No Brasil, o desgraçado que falir uma microempresa nunca mais
consegue uma certidão negativa e jamais volta a ser empreendedor.

Não se consegue transpor a cultura de um país para outro, mas há muito que aprender com Israel.

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