sábado, 10 de março de 2012

Agressões no dia da mulher





p/ Amauri Alonso Ielo publicado no Jornal Cidade do Guarujá em 11/03/2010 )



Em meio às homenagens, mais representadas por chavões inócuos da mídia do que por atitudes produtivas e eficazes, o dia internacional das mulheres entristeceu-me por dois fatos concretos que se consubstanciam em inomináveis agressões à dignidade da mulher.



O primeiro partiu da boca do goleiro Bruno do Flamengo que no intuito de prestigiar seu colega Adriano deu a entender que seria normal a agressão física à mulher. O fato mais se agrava por ter o dito saído com tanta naturalidade que demonstra haver uma considerável parcela da nossa população, ignara e covarde, a praticar ordinariamente agressões contra esposas, noivas e namoradas como ato corriqueiro, banal. Certamente, nesse universo viveu ou vive o infeliz goleiro.



A fala do jogador foi o tema de inúmeros comentários dos jornalistas esportivos os quais faziam questão de enfatizar que nunca agrediram mulheres. Todos santos! Ora, se minhas mãos digitarem com o fluido veia poética, diria que os sábios também erram e que os santos, vez ou outra, pecam. Assim, pode mentir algum dos jornalistas que se preocupam em dizer que são honestos e nunca agrediram mulher.



O fato fez-me recordar meados de 1982. Era eu juiz da 4ª. Vara da Família em São Paulo e tive oportunidade de ver estrago de agressão em mulher. Era a esposa de pessoa muito conhecida nos meios futebolísticos. Deve ter apanhado muito. Seu rosto era um pastel disforme. Estava desfigurada. Depois das formalidades do desquite amigável (hoje separação judicial), insisti para que ela falasse com o promotor na sala ao lado. Recusou dando a entender, como o guarda-metas, que agressão era atitude normal dos homens.



O segundo fato é de repercussão internacional. As autoridades iranianas impediram a poetisa Simin Behbahani, de 83 anos de idade, de viajar a Paris para participar de um evento do Dia Internacional da Mulher, na segunda-feira, informou um site na Internet.


O site Kaleme, do líder oposicionista Mirhossein Mousavi, disse que a poetisa tinha sido convidada pela prefeitura de Paris, mas foi impedida de deixar o aeroporto internacional de Teerã na madrugada da segunda-feira.



Ainda segundo o site, dois agentes de segurança a chamaram, tiraram seu passaporte, a interrogaram e, finalmente, mandaram-na ir ao Tribunal Revolucionário para receber o passaporte de volta.



De fato, a poesia incomoda os tiranos porque é o melhor e o mais forte meio de fazer a verdade oculta tocar os corações das pessoas. Disse Aristóteles que “a poesia é mais fina e mais filosófica do que a história; porque a poesia expressa o universo, e a história somente o detalhe”.


Então, permita-me, leitor, desabafar: fiquem os machões e tiranos com a violência, os detalhes e os prazeres temporais, enquanto seguem, eternamente, a beleza e a verdade universal que se expressam na poesia e na mulher que é, por si mesma, o mais lindo dos poemas....

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