quinta-feira, 29 de setembro de 2011
ATÉ MACHADO DE ASSIS OS ESQUERDISTAS ODIARAM
Machado foi um crítico da sociedade burguesa - Críticos e sociólogos marxistas quiseram fazer de Machado um analista engajado da "elite" de seu tempo, em cujo ócio e vaidade teria mostrado como as idéias vindas da Europa serviam apenas de verniz para os privilégios.
Machado, segundo Roberto Schwarz, seria um crítico do "formalismo" e do "universalismo" da civilização burguesa, de suas idéias liberais e iluministas. Na realidade, Machado, que era fã da Inglaterra (onde o capitalismo deslanchou), viu muito mais longe: viu que a sociedade brasileira era pré-capitalista e os privilegiados tinham mentalidade feudal, nada burguesa, em sua defesa dos interesses próprios e não de valores universais.
Além disso, não poupou a emergente classe média, as Capitus e os Escobares: não tinha parti-pris de classe.
Machado sabia que a República viria com a Abolição - Machado tinha muitas idéias liberais, inclusive a defesa do voto feminino, mas era um monarquista convicto, tal como seu amigo Joaquim Nabuco. E sonhava com o Terceiro Reinado: a princesa Isabel assinaria a Abolição e sucederia o pai, preservando o regime. Quando veio a República, no ano seguinte, ele ficou dois anos sem escrever crônicas, assim como Nabuco interrompeu seus diários. Embora abolicionista e desiludido com dom Pedro II, Machado não via com bons olhos a nova geração, materialista e carreirista. Suas crônicas sobre o sistema financeiro no fim do século mostram um nostálgico, sem instrumental suficiente para entender a economia moderna.
Ele era conservador em muitos aspectos, liberal em outros; essas duas naturezas eram simultâneas.
Machado foi um gênio porque deixou uma obra rica, complexa, atual, cuja marca é o fato de ser sempre relida e interpretada sem que se esgote com isso. Não é o "milagre" latino-americano que críticos como Harold Bloom viram, porque surgiu num contexto histórico - que incluía uma das mais brilhantes gerações de intelectuais brasileiros, senão a mais - e com ele se relacionou profundamente. Gênios não nascem por combustão espontânea. Machado soube ser nacional e internacional ao mesmo tempo. Seus leitores, nem sempre.
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