segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Manual de picaretagem intelectual - JOÃO MELLÃO NETO
Antes de ler este artigo, sugiro ao leitor do Estadão que responda ao seguinte questionário. Você precisa debater em público e não tem certeza da validade de seus argumentos? Você, com certeza, é o melhor executivo da empresa; mas por que as boas vagas sempre acabam sendo ocupadas por profissionais que você julga menos capacitados? Suas ideias, é claro, são sempre as melhores; por que ninguém se interessa por elas? Embora seja frequente, você ainda não se conformou em sempre passar por idiota? Você acredita, realmente, que ainda vai vencer na vida?
Então este artigo foi feito para você. Preste muita atenção!
Você não precisa se aprofundar na arte de argumentar. Muitos sábios, advogados e homens públicos já cuidaram disso por você. Desde a Grécia antiga, berço da civilização ocidental - começando com os filósofos sofistas e, depois, Sócrates, Platão e Aristóteles -, muitos dos grandes pensadores da humanidade se debruçaram sobre esse tema.
O que cabe a você, aqui, é - de uma vez por todas - saber que os que sabem discursar melhor não são, necessariamente, os que sabem governar melhor. Os medíocres também têm vez. Não importa se seu produto é o melhor, o que importa é saber vendê-lo bem. Saiba, enfim que para vencer um debate o que menos você precisa é estar com a tese certa.
1.ª lição - Mesmo que esteja em dúvida, trate de ser convincente - se não der para convencer, confunda. Se mesmo assim não funcionar, encontre um ausente no qual pôr a culpa.
2.ª lição - Demonstre sempre certeza do que está falando, mesmo quando já tenha percebido que sua proposta está errada.
3.ª lição - Decorre da segunda: ninguém segue um líder que se mostre em dúvida.
4.ª lição - Não se preocupe em responder a um argumento correto, é muito melhor dizer que seu oponente não tem autoridade moral para afirmá-lo. Inversamente: uma boa ideia será sempre uma boa ideia, independentemente de quem a tenha tido.
5.ª lição - Apresente ideias que aparentem ser coerentes. As boas histórias só convencem a audiência se tiverem começo, meio e fim. Inversamente: não acredite em histórias perfeitas, geralmente elas são inventadas. Tenha sempre em mente que a realidade não produz enredos perfeitos.
6.ª lição - Para que ideias confusas sejam mais convincentes, você deve atribuí-las a alguém como Napoleão. Servem também Júlio César, Alexandre ou Abraham Lincoln. Ninguém se atreverá a desmenti-lo nem admitirá pouco saber sobre eles. Se a celebridade em questão já tiver falecido, nem mesmo ela poderá desmenti-lo.
7.ª lição - Os exemplos de que você se vale não precisam ser verdadeiros. Basta que eles sejam verossímeis.
As lições são inúmeras. Mas, por enquanto, são suficientes essas sete. Você ainda acredita nas palavras e nas elaborações intelectuais?
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