terça-feira, 7 de agosto de 2012

QUEM ROUBA, MENTE



Valfrido M. Chaves


A Psicologia e a observação nos ensinam que todo ladrão mente, da mesma forma como quase todo mentiroso rouba. A mentira e o roubo seriam, pois, faces de uma moeda viciosa. Quando rouba, o larápio não busca apenas um objeto, pois o que o move é apropriar-se das qualidades da pessoa lesada. É como o Tupinambá em seu festim canibalístico que, ao devorar seu inimigo, imaginava adquirir suas qualidades, sorte e bravura. Assim, ao apropriar-se do que é alheio, o malfeitor se engrandece com a imaterialidade do objeto furtado, pois são as qualidades do possuidor que ele busca em seus bens. Trata-se de uma atuação mágica, primitiva.

Podemos dizer, então, que nas carências da alma estão as motivações do roubo e da mentira, das quais resultam sentimentos de grandeza e onipotência no intimo de seus praticantes. Como diriam nossos adolescentes, ao enganar e roubar, o pobre de espírito “se acha”, sentindo-se igual ou superior àqueles que lesa, engana. Sabe-se ainda que o “olho grande” marca sua alma. Por carregar nela um contínuo sentimento de auto-desvalorização, a inveja o aflige diuturnamente. Assim, a riqueza material ou espiritual alheios o atormentam, mobilizando suas iras e ações que levam privação e dor ao outro.

O pobre de espírito mente, manipula e rouba em busca do sentimento de triunfo que tais práticas lhe proporcionam. Creio, entretanto, que a “maldade” seja o chefe da quadrilha constituída pela mentira, o roubo e a inveja. A maldade se realiza no momento em que o algoz vê refletido nos olhos de sua vítima, a perplexidade, a frustração, o desconsolo e a impotência. Para aí chegar, a vítima foi seduzida, nela sendo alimentadas esperanças grandiosas, o mais das vezes justas, ainda que não realistas. Como uma fruta que amadurece em sua mão, ao vê-la frustrada e impotente, o maldoso nela deposita toda a dor, frustração e impotência que traz na alma. Ou seja, a maldade que um dia o atingiu e mutilou. A mentira e o roubo são, pois, instrumentos da inveja e da maldade, para resultar num triunfo maligno, através da dor alheia.

A prática maldosa, caro leitor, pode ser individual, como a de um “serial killer”. Pode ainda ser coletiva, quando uma liderança perversa ilude e frustra multidões, sem culpas ou vergonha na sua semeadura de promessas vãs, nas apropriações não contabilizadas e na teia de mentiras em que se enrola, gradativamente, quando sua lama vem à tona. Toda essa cadeia de miséria humana, leitor, está escrita nos fatos políticos que se descortinam hoje, sob nosso olhar perplexo, sob o título de “Mensalão” e outros.

Sendo um triunfo roubar para corromper congressistas, leitor, evidencia-se ser “a glória”, encobrir extorsões e cumplicidades com o submundo da coisa pública ou privada. Ao optar pela cadeia de mentiras para encobrir o sol com uma peneira, aqueles pegos com a boca na botija mensaleira, agem como o glutão que não renuncia às bordas recheadas que coroa sua saborosa pizza. Ninguém consegue privar o ladrão do exercício da mentira, até porque, através dela, se furta do outro a sua percepção da realidade. Depois dos escândalos que viabilizaram a decepção e a dor coletivas, a mentira torna-se a jóia da coroa no exercício da onipotência e no triunfo da maldade!



Àqueles que hoje envergonham a Nação com seu perverso gozo mensaleiro e mentiroso, resta deixar-lhes a canção de Gonçalves Dias, em Y-Juca-Pirama: “Possas tu, isolado na terra/ Sem arrimo e sem pátria vagando/ Rejeitado da morte na guerra/ Rejeitado dos homens na paz, / Ser das gentes o espectro execrado, / Não encontres amor nas mulheres, / Teus amigos se amigos tiveres/ Tenham alma inconstante e falaz!

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