domingo, 6 de março de 2011
DÁ PARA CONFIAR? O DISCURSO DA RAINHA....
Quem assistiu a “O Discurso do Rei” notou que a grande agonia de George VI, o rei disfêmico da Inglaterra, era o preâmbulo da fala, o prefácio, as primeiras palavras. Dilma tem enormes dificuldades com o resto também, mas é no prólogo de seus discursos que a coisa realmente pega. Uma saudação que deveria ser simples e natural, para beneficiários do Bolsa Família, transforma-se num pastiche do pastiche. Aquele célebre “Primeiro eu queria comprimentar os internautas. Oi internautas” aqui virou “Primeiro eu queria desejá boa tarde a todos. Boa tarde”.
Dilma, obcecada com esse negócio de ser a primeira “presidenta”, cismou de fazer gênero com a mulherada – mas de um modo sempre desastroso. Dar “um boa tarde especial às mulheres baianas aqui presentes”, como se fosse possível dá-lo às dinamarquesas ou não devesse incluir as não-baianas ali presentes, só não é mais ridículo que o complemento: desde quando dar boa tarde às mulheres, no “mês da mulher”, é preterir “os companheiros homens”? Fazer média com gênero é sempre detestável, porque tão demagogo e antinatural quanto o “Queridos brasileiros e queridas brasileiras” do discurso de posse que enlevou a companheirada.
O pior é que, nesses momentos, Dilma tenta ser leve, arrisca uns truquezinhos de comunicador de auditório – mas seu repertório é constrangedor. E inclui, desde a campanha, onde foi repetido dezenas de vezes, esse monstruoso apedeutismo dos 52% de mulheres-mães dos outros 48%, que ela ouviu falar não sabe onde e repete sem noção de lógica e sem contestação
É possível confiar um PIB de 3,675 trilhões de reais, um “Pibão bão”, nas palavras da presidente, a uma pessoa com essa dificuldade de raciocínio?
CELSO ANTUNES
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