quinta-feira, 24 de março de 2011

Shakespeare, Freud e as loucuras do poder



Shakespeare é tido por quantos conheçam sua obra literária, como um dos mais profundos conhecedores da alma humana já vistos. Seu pensamento ilumina os recônditos da mente, nos possibilitando aprender, prever, compreender e modificar nosso comportamento e atitudes. Com Shakespeare e Freud, não seria por ignorância que os grandes males da alma ainda persistem e nos mortificam. Faria aqui até uma provocação na linha de que apenas o conhecimento do mal não o elimina, indagando qual de nós, leitor, não conhece bem “aquele” defeito ou tentação que só nos incomoda, aos nossos entes queridos e, dele, não conseguimos nos livrar? Mas nem por isso vamos deixar de dividir com o leitor um pouco do que tivemos a oportunidade de conhecer, até por acharmos que tal conhecimento diz muito a respeito dos dias atuais.

Isso posto, compatilhamos então uma pérola do pensamento shakespeariano : “Só conhecemos uma pessoa após vê-la no poder”. Creio que ninguém discorda desse óbvio, óbvio após ser enunciado com toda a maestria pelo poeta! Mas... o que há por trás dessa verdade? Porque o poder transforma a alma de tantos, levando-os ao delírio, ao desastre, com extremos de crueldade, fanatismo e intolerância?
Sabe-se que o acesso ou a prática do poder, na realidade, funciona como “fator desencadeante” da regressão ou infantilização, a qual leva a pessoa, já no poder, cair sob o domínio dos sentimentos onipotentes, narcísicos, intolerantes e cruéis, próprios de determinados estágios infantis. Isso em maior ou menor grau, dependendo de sua “predisposição”. Pois bem, Shakespeare “sacou” esse fenômeno e enunciou a idéia de que o poder nos revela a pessoa que o exerce. É como uma talagada para o alcoólatra, quanto mais toma, mais quer tomar. Assim compreendemos o puritano Cromwell, após executar o rei da Inglaterra, quando expressou sua admiração quanto à coincidência entre a sua prática política e os “desejos de Deus”. Da mesma forma vimos a determinação de Stalin, mandando executar 6000 oficiais poloneses no Bosque de Katyn, por serem católicos, parte de uma “elite” que repudiava sua ideologia e que, portanto, contrariariam a “marcha da História” da qual Stalin seria um mero instrumento. Ou seja, aqui, um delira com deus, outro com o "sentido da história". O leitor consegue ainda imaginar os sentimentos de poder e intolerância presentes nas fantasias deliródes de "raça superior" de Hitler, levados à prática pelo Holocausto?

Isso posto, leitor, me pergunto se as sementes da marcha infantilização para o reino da intolerância, crueldade e incompetência não estão semeadas em milhares de corações e embutidos numa prática política absurdamente hipócrita que encobre um golpe antidemocrático e totalitário, sob o doce manto de um Plano Nacional de Direitos Humanos-3. E, sabidamente, inspirado por aqueles que ingressaram na luta armada, por volta de 68, delirando que conseguiriam impor no Brasil sua ideologia totalitária, e que agora estão no poder, fator que neles libera a onipotência e a falta de limites: são donos do destino da Nação. Se o leitor duvida, desafio-o a encontrar algum documento da época em que nossos "guerrilheiros" preconizassem, por descuido que fosse, a redemocratização do Brasil. Mais dois exemplos ainda de ousadia onipotente e amoralidade desse grupo estão claros em nossa lembrança recente: o Mensalão do PT, através do qual seus responsáveis se deram ao direito de comprar congressistas e siglas partidárias com dinheiro público, no interesse do governo, com a simplicidade de quem compra pirulito na esquina. Como se não bastasse, vimos um Presidente em fim de mandato anunciar seu intento de provar à Nação que o dito “Mensalão do PT” nunca passou de um golpe da imprensa e da zélite preconceituosa contra ele. Trata-se de uma "porre" de onipotência que nos faz indagar se é a Nação que delira, leitor, enquanto eles, os “iluminados”, apenas conduzem a “marcha da História”, para o reino da amoralidade, onipotência e crueldade. Os fatos e a História não nos desmentem, caro leitor, são as loucuras do poder que, como comer e coçar, é só começar.

Valfrido M. Chaves Pantaneiro, Psicanalista

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