quarta-feira, 9 de março de 2011
SERVIDÃO VOLUNTÁRIA- PARTE 5
O historiador Xenofonte, um dos mais dignos e estimados entre os Gregos, fez um livro pouco volumoso onde se encontra um diálogo entre Simônides e Hierão, rei da Siracusa, a respeito das misérias do tirano. O livro é cheio de advertências boas e graves que, em meu entender, tem também uma graça infinita. Prouvera Deus que todos os tiranos que já o tivessem colocados diante de si como espelho. Certamente, nele teriam reconhecido seus próprios vícios e enrubescido de vergonha. O tratado fala do pesar sentido pelos tiranos que, ao prejudicarem a todos, são obrigados a temer todo mundo. Entre outras coisas, diz que os maus reis empregam tropas estrangeiras a seu serviço, pois não ousam mais pôr armas nas mãos de seus súditos; e para atingirem tal objetivo não consideravam a despesa que a manutenção exigia. Essa também era a opinião de Cipião (o grande Africano, creio eu), que dizia preferir ter salvo a vida de um cidadão a ter derrotado cem inimigos. Mas o que há mesmo de positivo é que o tirano jamais acredita assegurado o seu poderio se não chegou a ponto de só ter como súditos homens sem valor nenhum. Poder-se-ia dizer-lhe com razão o que, segundo Terêncio, Trasão dizia ao senhor dos elefantes: “Acreditai-vos corajoso porque havei domado bichos?”.
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