quarta-feira, 9 de março de 2011

SERVIDÃO VOLUNTÁRIA- PARTE 9



As próprias pessoas de bem — se é que às vezes existe uma única amada pelo tirano -, por mais que sejam os primeiros em suas boas graças, por mais que nelas sejam brilhantes a virtude e a integridade, a ponto de, ao serem vistas de perto, sempre inspirarem algum respeito até aos maus, as pessoas de bem, digo, não poderiam sustentar-se junto do tirano; é preciso que também compartilhem do mal comum e que às suas custas sintam o que é a tirania. Pode-se citar alguns, como Sêneca, Burrus Tráseas, esta tríade de pessoas de bem, da qual as duas primeiras tiveram o infortúnio de se aproximar de um tirano que confiou-lhes a condução de seus negócios — ambos por ele estimados e queridos, um dos quais o havia educado e tinha como garantia de sua amizade os cuidados que lhe dera na infância — mas só esses três, cuja morte foi tão cruel, não são exemplo suficientes da pouca confiança que se deve ter nos maus senhores? E, na verdade, que amizade esperar daquele que tem o coração duro o bastante para odiar um reino que só faz obedecê-lo, e de um ser que, não sabendo amar, empobrece a si mesmo e destrói seu próprio império?

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