domingo, 13 de março de 2011
O HOMEM MEDÍOCRE
A psicologia dos homens medíocres se caracteriza por um risco comum: a incapacidade de conceber uma perfeição, de formar um ideal.
São rotineiros, honestos e mansos; pensam com a cabeça dos outros, compartilham a hipocrisia moral alheia e ajustam seu caráter à domesticidade convencional.
Estão fora de órbita a genialidade, a virtude e a dignidade, privilégios do caráter excelente; sofrem com isso e desprezam-no. São cegos para a aurora; ignoram a quimera do artista, o sonho do sábio e a paixão do apóstolo. Condenados a vegetar, não suspeitam que existe o infinito além de seus horizontes.
O horror do desconhecido ata-os a mil preconceitos, tornando-os covardes e indecisos: nada pica sua curiosidade; carecem de iniciativa e olham sempre o passado, como se tivessem olhos na nuca.
São incapazes de virtude; não a concebem ou esta exige deles esforço demais. Nenhum anseio de santidade altera o sangue em seu coração; às vezes não cometem delitos por medo de um possível remorso.
Não vibram conforme as tensões mais altas da energia; são frios, embora ignorem a serenidade; apáticos sem ser previdentes; sempre acomodatícios, nunca equilibrados. Não sabem estremecer de arrepio com uma suave carícia, nem se lançar de indignação ante uma ofensa.
Não vivem a vida para si mesmos, mas para o fantasma que projetam na opinião de seus similares. Carecem de linha; sua personalidade se apaga como um pedaço de carvão cujo lume vai se extinguindo até desaparecer. Trocam sua honra por uma homenagem e fecham à chave sua dignidade para evitar um perigo; renunciariam a viver antes do que gritar a verdade ante o erro de muitos. Seu cérebro e seu coração estão igualmente entorpecidos como os pólos de um imã gasto.
Quando se ajuntam são perigosos. A força do número supre a debilidade individual: associam-se aos milhares para oprimir os que se negam a aliar-se à rotina.
Subtraídos à curiosidade do sábio pela couraça de sua insignificância, fortificam-se na coesão do total; por isso a mediocridade é moralmente perigosa e seu conjunto é nocivo em certos momentos da história: quando reina o clima da mediocridade.
Há épocas em que o equilíbrio social se rompe a seu favor. O ambiente torna-se refratário a todo anseio de perfeição; os ideais diminuem e a dignidade se ausenta; os homens acomodatícios estão em sua primavera florida. Os estados se transformam em mediocracia; a falta de aspirações que mantenham o alto nível da moral e da cultura aumenta continuamente o lamaçal.
Apesar de não merecerem atenção quando estão isolados, em conjunto constituem um regime, representam um sistema especial de interesses inalteráveis. Invertem o quadro de valores morais, falsificando nomes, desvirtuando conceitos: pensar é um desvario, a dignidade é irreverência, é lirismo a justiça, a sinceridade é bobagem, a admiração, uma imprudência, a paixão, ingenuidade, a virtude, uma estupidez.
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O Homem Medíocre" do argentino José Ingenieros
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