quarta-feira, 9 de março de 2011

SERVIDÃO VOLUNTÁRIA- PARTE 6



Mas, não querendo saquear uma cidade tão bela em ser sempre obrigado a nela manter um exército para dominá-la, descobriu um expediente extraordinário para assegurar sua posse: estabeleceu casas de devassidão e prostituição, tavernas e jogos públicos, e emitiu uma ordem que levava os cidadãos a se entregarem a todos esses vícios. Ficou tão satisfeito cm este tipo de guarnição que depois não precisou mais puxar da espada contra os Lídios. Essa gente miserável divertiu-se inventando todo tipo de jogo, de tal modo que os latinos formaram uma palavra com seu próprio nome, através da qual designavam o que chamamos passatempo e que eles nomeavam Ludi, corruptela de Lidi. Todos os tiranos não declaram tão expressamente que queriam efeminar seus súditos; mas, de fato, o que aquele ordenou tão formalmente, a maioria o fez veladamente. Na verdade, essa é a tendência bastante natural da porção ignorante do povo que, comumente, é a mais numerosa das cidades: desconfiada para com aquele que a ama e a ela se dedica, mas confiante para com aquele que lhe engana e trai.
É realmente maravilhoso que cedam tão rápido — basta que lhes façam cócegas. Os teatros, os jogos, as farsas, os espetáculos, os gladiadores, os bichos curiosos, as medalhas, os quadros e outras drogas desse tipo eram para os povos antigos a isca da servidão, a compensação por sua liberdade roubada, os instrumentos da tirania. Esse sistema, essa prática, esses atrativos eram os meios que os tiranos antigos empregavam para adormecer seus súditos na servidão. Assim, achando bonitos todos esses passatempos, entretidos por um prazer vão que lhes ofuscava, os povos embrutecidos habituavam-se a servir tão tolamente e até pior do que criancinhas aprendendo a ler com imagens de iluminuras

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